domingo, 3 de setembro de 2017

10 dias no Mar - Rota dos Ventos - parte 3

Sétimo dia !


 Acordamos para o nosso sétimo dia de viagem em estado de graça, a noite tinha sido ótima, dormimos em uma Pousada maravilhosa, muito bem  recebidos pela amiga Ana que preparou um café da manhã regional fantástico nos servindo uma Araiá deliciosa acompanhado por cuscuz, uma energia imediata se incorporou ao nosso animo para inciar nosso dia. Fizemos um pequeno reparo no equipamento e acionamos nosso companheiro Beto para nós levar a praia, pra falar a verdade, Já havia um sentimento entre nós de saudade, mesmo antes da partida, bem que poderíamos passar alguns dias naquele lugar incrível, no entanto, uma breve lembrança de que já estávamos a uma semana longe de casa nós colocou imediatamente no trilho da realidade, partimos de Galinhos felizes a cada minuto de velejo aquele visual fantástico ia ficando para trás, logo em seguida passamos pelo bem cantado Farol que anuncia de forma majestosa  a divisa entre Galinhos e Guamaré. Esse sem dúvida seria um dia especial, velejar em uma região belíssima, até então desconhecida, com muito vento contrastava com nosso sentimento de início dos trabalhos, essa parte do dia sempre foi a mais difícil, apesar de uma vigorosa sessão de alongamentos e oração era necessário muita determinação para esquecer as dores musculares e as feridas nas mãos para entrar na água, a primeira meia hora de velejo era simplesmente terrível, inevitavelmente nos pegávamos nos piores pensamentos nos questionando o que estávamos fazendo ali naquela parte do mundo. No entanto, logo eramos tomados pela responsabilidade da missão e vibração com o desafio. Fomos deixando pra trás o inusitado Farol e passamos a velejar bem afastados da praia em um parte que forma uns bancos de areia, bem distante do litoral, água bem limpa e rasa uma imensa piscina natural, paramos pra contemplar e agradecer a Deus a oportunidade de estar ali diante daquela beleza inusitada no meio do mar, logo em seguida aproamos nossas pranchas à Diego Lopes e partimos sem medo de sermos felizes, afinal o tempo é movimento e quem sabe faz a hora.

Passados já cerca de três horas de velejo ininterrupto passando por inúmeras praias totalmente desertas entre Galinhos e um ponto desconhecido apos Diego Lopes paramos afim de beber um pouco de água e discutir o andamento de nosso roteiro, sabíamos que estava apenas alguns quilômetros de Macau, sempre tive muita curiosidade em conhecer esse local, não sei porque, mas esse nome sempre despertou curiosidade, em minha imaginação achava que seria uma cidade portuária sem muitas belezas a oferecer, ledo engano, Macau se revelou uma bela localidade que vista do mar parecia mas uma cidade tipica da obra de Júlio Verne - Viagem ao centro da Terra. Como uma pequena ilha no meio da rota bem delimitada com edificações impressionantemente simétricas, toda cercada por um bem construído muro de pedras, essa pequena cidade fez viajar meus pensamentos, - o nome Macau tem origem nas araras vermelhas que habitavam a região do Vale do Açu, cujos habitantes indígenas chamavam de "Macaw".  - apesar de não havermos programado uma parada ali o inusitado visual forçou um inadvertido intervalo. Pousamos nossos kites ao lado do paredão de pedras e fomos andando conhecer aquele insólito lugar, nesse momento parecia que nossa viagem havia sido inserida dentro de uma estória de livros de tempo de criança, não poderia deixar de viajar nesse mágico contesto. Tomamos um delicioso caldo de peixe servido em uma cumbuca com uma vista privilegiada do balanço natural das ondas que despejava insacavelmente sua energia no muro de pedras caprichosamente construído para proteger a cidade. Já passado do meio da tarde partimos em direção a bem querida Ponta do Mel, que bem ao fundo do horizonte já era possível se fazer vista em sua particular silhueta, apontamos nos equipamentos e partimos passando por um trecho belíssimo do litoral bem recortado por cabos e entranças de furos envolvido por uma extensa vegetação de mangue, nesse momento o mar já muito balançado nos forçou a descolar da praia e contornar uma ilha que crescia a nossa frente, desse momento em diante só pensávamos em chegar ao nosso destino final do dia, muito cansado passei a  velejar em um especie de transe sem olhar pros lados, só mirando na Ponta do Mel que não chegava nunca, acho que passei um bom tempo nesse embalo até que procurei meu companheiro que a muito não via ao meu lado, nesse momento um desespero tomou conta de mim, não conseguia ver Cacá e ao e ao mesmo tempo constatei que o vento havia diminuído muito e sua direção havia mudado. Senti um desespero, me perguntei por quanto tempo havia velejado sem a presença dele, o que poderia efetivamente teria acontecido? voltei toda minha atenção ao caminho já percorrido voltando minha asa para o caminho oposto do meu desejado destino. Uma sessação incompressível de raiva começou inadvertidamente a coordenar minhas ações e sem exitar pousei meu kite na praia e comecei a andar em busca do parceiro. Apos alguns minutos encontrei o Cacá já com equipamento todo guardado, sem entender questionei - Ei blodder, não chegamos ainda, vamos voltar pro mar - Ele caprichosamente me respondeu - Impossível, não consigo mais velejar, o vento tá muito fraco, terremos que fazer o resto do percurso a´pé - Nesse momento caiu minha ficha e pude perceber que realmente o vento caíra muito, mas no meu entender ainda dava condição de chegar. Um estranho silencio pausou nosso dialogo e um sentimento de frustração tomou conta de mim, pela primeira vez estávamos com nossos objetivos desassociados, intempestivamente, na cólera do momento  rede colei meu kite e injustificadamente fui me separando do amigo, quase noite o vento estava totalmente perpendicular ao relevo da praia que por sua vez tinha muitas ondas tornando a possibilidade de velejo praticamente impossível, aquela altura seria uma questão de hora conseguir chegar ao destino velejando, um sentimento de raiva tomou conta das minhas ações e talvez por um milagre conseguir começar a velejar em direção ao meu destino. Cheguei em Ponta do Mel praticamente a noite por cima das pedras absolutamente exausto, a adrenalina estava saindo por meus poros, na medida que começava a guardar meu equipamento foi se abatendo dentro de mim uma sensação de culpa justificada por abandonar meu parceiro, fiquei maluco, literalmente sai correndo afim de encontrar um local pra deixar meu equipamento e voltar atrás do Cacá, vou conversar, nunca me senti tão mau, tive vergonha  de mim, fui em busca de alguém que pode-se me ajudar a encontrar o Cacá quando descobri que tinha somente R$ 40,00 de numerário, Deus ajuda nessas horas e com muito apelo consegui um motoqueiro para voltar ao fatídico local da separação. Já era noite, procuramos o Cacá por cerca de duas horas sem sucesso, meu sentimento de culpa perturbava sem descanso minha mente, quando voltando a uma pequena Pousada avistei meu herói, ali  incólume, carregando   seu equipamento nas costas. Uma verdadeira benção, abracei o amigo e resignadamente pedi lhe  desculpas. Esse episodio sem dúvida me aproximou muito do parceiro passei a ter um respeito incontinente pela lição que havia recebido. Passado esse turbilhão de acontecimentos lembramos que o próximo grande desafio seria nos alimentar, Ponta do Mel é praticamente uma Vila de Pescadores, aquela hora, seria impossível encontrar um lugar para comer, foi quando se apresentou mais um amigo, Jefferson nos abrigou e concedeu um alimento abençoado, delicioso, sem igual : Ovo com tomates.


Pequena pausa em Macau para degustar um delicioso caldo de peixe


Ponta do Mel ao fundo


Momento do cochilo


Oitavo dia !

Apesar do perrengue do dia anterior acordamos com nossas baterias na carga máxima, a possibilidade em pernoitar já no estado do Ceará gerou uma motivação a mais, nossa trip estava chegando ao fim apesar de todos os percalços, fomos providenciar o pagamento de nossa estadia com o amigo Jerfeson, fizemos uma permuta com uma pequena compra na mercearia local que felizmente aceitava cartão de crédito, que aquela altura era nosso único meio de pagamento, em seguida, fomos à praia esperar a entrada do vento aproveitando para revisar todo material, tivemos que reconstruir minha mochila que estava prestes a se desfazer, é incrível o que ação do mar por vários dias pode fazer com o material. Estávamos na expectativa que as condições de vento melhorassem, pois já estávamos muito próximo da entrada no Ceara, suposta terra do vento, o tempo foi passando e nada do nosso combustível se apresentar, já impacientes decidimos da partida por volta de 12:0hs com um ventinho de aproximadamente 10 knós, que pra aquela região é uma merreca, velejamos por volta de duas horas nessa precária condição até chegar na Praia de Areia Branca, havia alguns velejadores por lá, ficamos um pouco e decidimos partir para nossa investida em cruzar nossa última fronteira aproveitando as boas condições de vento que há aquela altura já havia se consolidado, fizemos uma longa travessia passando bem por dentro do mar com uma grande reta até Tibau vista bem ao final do horizonte, esse percurso incrível permite uma visão bem ampla da Fox dos Rios Mossoró e Apodi, uma vista privilegiada ao fundo de Barra de Pernambuquinho, tradicional ponto de encontro de velejadores. Passamos em frente a cidade de Tibau no meio da tarde, havia uma sensação natural de alegria em cruzar a fronteira entre os estados do Rio Grande do Norte e Ceará víamos embalados por um vigoroso vento leste, pensei - se essa condição de vento segurar chegaremos em Fortaleza amanhã -  não imaginava que esse otimismo logo seria substituído por uma profunda frustração, sem aviso, com o céu de brigadeiro o vento inexplicavelmente caiu vertiginosamente e pra piorar mudou de quadrante, passando a soprar do lado oposto ao nosso destino, fomos rapidamente forçados a interromper nossa tirada pousando incrédulos nossas pipas em uma Praia entre Tibau e Tremembé, estávamos atônitos em vários anos de velejo nunca havia assistido uma mudança tão rápida de vento, avistamos uma senhora a poucos metros e meu companheiro foi procurar saber que praia era aquela, quando recebeu uma informação aterradora - meu filho se estão indo pras bandas de lá ( Ceará ) pode desistir, em toda maré de lua, essa hora, o vento diminui e vira para o lado oposto, afirmou com propriedade a pescadora. O Cacá voltou com essa inacreditável informação, claro que não devemos acreditar nisso, afirmei ao amigo. Ficamos tentando sem sucesso, por mais de uma hora, seguir, até que sem mais nenhuma energia e começando a anoitecer tivemos que voltar a Tibau totalmente contristados. Uma revolta se abateu sobre nossos ombros, pra falar a verdade, pensei em jogar a toalha e interromper ali mesmo nossa jornada, não conseguia aceitar os desígnios da natureza, estávamos cansados, esgotados com o corpo já cheio de marcas, legado dos vários dias no mar, desde nossa saída estávamos administrando problemas cheio de feridas, mãos esfoladas, com todos músculos do corpo gritando, a possibilidade de chegar na terra do kite - Ceará - e não ter vento era demais pra aceitar!  Resignados fomos em um silencio obsequioso procurar um local para comer e dormir,  quem sabe, esperando que o próximo dia fosse melhor, se há uma qualidade fundamental encontrada em todos os exitosos, hoje posso afirmar categoricamente que é a Fé.


Intermináveis praias desertas


O por do sol mais nervoso da viagem - Ponta do Mel


sábado, 26 de agosto de 2017

10 dias no mar - Parte 2


Quinto dia !        

Acordamos com uma disposição incomum, nosso anfitrião transmitia uma energia maravilhosa e uma boa prosa, nós falando de toda sua experiencia de vida, uma criatura de Deus, sem dúvida. As condições perfeitas de vento já se apresentava no inicio da manhã, fizemos nosso desejum com o novo amigo e em seguida fomos a praia iniciar os trabalhos, desde o segundo dia, passamos a fazer rotineiramente uma oração que alimentava nossa alma e enchia nossos corações de alegria e coragem, iniciamos nosso velejo em um dos trechos mais interessantes da viagem, passamos pela árvore do amor, Cabo de São Roque, Maracajaú, Rio do Fogo,  e tantos outros locais de beleza singular, todo esse percurso foi realizado a  apenas poucos metros da orla com visuais inesquecíveis, a meta era um desejado pernoite em São Miguel do Gostoso, marco da metade do trecho final a ser percorrido até Fortaleza, esse trecho é muito interessante, pois a cada curva se desnuda um novo visual, Cabos, Bahias, Enseadas, pequenos córregos em uma beleza singular, sempre acompanhados ora por tartarugas ora por golfinhos, vento constante que refresca sem descanso vários povoados no trajeto, efetuamos uma parada pra descanso, já à tarde, aos pés do vistoso Farol de Touros, minutos abençoados, necessário a reposição física e uma breve reflexão da grandiosidade desses dias fantásticos vividos entre dois amigos e o mar. 

Nesse momento já não havia dúvida que atingiríamos nossa meta, a possibilidade da chegada a São Miguel do Gostoso criava uma euforia justificada, além de ultrapassar a imaginária linha da metade da viagem seria o lugar sagrado, pelo menos pra mim, pois escolhera o local para depositar as cinzas do meu saudoso Pai, desde sua partida havia guardado suas cinzas para que oportunamente ele pudesse desfrutar da vida magnifica que me concedeu,  além de se integrar definitivamente a natureza que sempre desejara.  Havíamos adiantado bastante, poderíamos até velejar mais e quem sabe pernoitar em Caiçara do Norte, mais o Gostoso é um lugar especial,  havia sido um dos meus primeiros palcos na prática do kite. Levantamos o acampamento e passamos a velejar em estado de graça em cerca de quarenta minutos estávamos chegando ao desejado ponto final do dia que foi esplendidamente iluminado por um por do sol mágico, um verdadeiro presente para meu Pai. Andamos uns quinhentos metros até chegar a Pousada do amigo Fábio um italiano com coração brasileiro muito querido que nos recebeu com todas as honras, nós concedendo um verdadeiro manjar, e logo apos essa magnifica refeição ainda nos forneceu ajuda e material para amenizar a situação da prancha de Cacá, não é necessário afirmar que dormimos como pedras. Afinal, os últimos dois dias haviam sido magníficos , nenhum incidente, rendimento dentro do esperado e a presença de dois colaboradores formidáveis.  

Um pouco antes da nossa aventura começar,conversando com meu filho, ele deu uma ideia que passamos a adotar, já a partir do primeiro dia e que se transformou em um verdadeiro diferencial na jornada - para mandar noticias e interagir com as pessoas hoje Pai não há nada melhor que a transmissão direta através do Face  - afirmou categoricamente Daniel, e realmente esse canal diário aberto com as pessoas que nos acompanhava foi extremamente importante, os comentários e mensagens de força recebidos pelos amigos se constitui em uma poderosa ajuda suplementar, nos concedendo muita energia, além de nos motivar, esse canal, com certeza servirá no futuro como um referencial de outras trips, bem como proporcionar um diário dinâmico de bordo compartilhado em tempo real,  as transmissões matinais transformou-se em uma deliciosa função de relatar o que havíamos passado no dia anterior, o que estávamos sentido a cada trecho da viagem como também nossos planos.     


Farol de Touros, local para um breve cochilo 

Rango abençoado oferecido pelo Amigo Fábio na Pousada Gostoso Village


Momento de contemplação em Rio do Fogo 


    
           

Sexto dia !

Descaçados, bem alimentados e bastante motivados nos dirigimos a Ponta de Santo Cristo para dar inícios aos trabalhos normais de preparação, alongamento, discussão do roteiro, oração e partida, a principio nosso anfitrião desejava nos acompanhar pelo menos até a praia do Marco, distante 20 quilômetros de São Miguel do Gostoso, um trecho bem legal, passado por várias praias bacanas em sua grande maioria desertas, no entanto, por falta de transporte de volta a presença do amigo conosco foi por água abaixo, logo na saída, por conta dos fortes ventos tivemos um pequeno incidente com a pipa do Cacá, gerando um atraso fora da programação. 

Eventuais contratempos nos preocupava muito, sempre antes de cada trecho estabelecíamos uma meta basicamente fundamentada em quantidade de horas na água, por experiencia em outras tiradas constatei que velejávamos em uma velocidade média de 16 quilômetros por hora, dentro desse parâmetro estabelecíamos nossos pontos de paradas, então eventuais atrasos ião colocando em risco todo o roteiro, gerando um indesejado stress que inevitavelmente colocava pressão em nossas decisões, um verdadeiro circulo virtuoso de roubadas ou de êxito. 

Fizemos uma parada rápida na praia do Marco para tomar água e seguimos adiante em uma região, até então desconhecida passamos a velejar no piloto automático com pano de fundo um litoral exuberante com grandes distancias de praias desertas com incontáveis  torres de energia eólicas, indicador objetivo de muito vento, logo após do meio da tarde passamos por um pequeno vilarejo que abrigava dezenas de embarcações que indicava ser o último lugar povoado até a chegada ao nosso ponto final daquele dia que seria a paradisíaca praia de Galinhos, pelo adiantar da hora havia um receio em não conseguir chegar com luz do dia, nos afastamos do litoral procurando um angulo favorável a velejar mais rápido entre uma ponta a outra, era curioso que em muitos momentos nesse trecho o vento simplesmente acabava, sem aviso com céu limpo, ou seja sem nenhum indicador, acredito tratar-se de uma característica natural da região. Faltando muito pouco para o sol tocar no oceano em uma mistura de cores inesquecível passamos a avistar, com muita dificuldade, um kite na linha do horizonte contrastando com últimos raios de sol anunciando que nossa chegada em Galinhos seria triunfal.

Absolutamente esgotados com todas nossa reservas consumidas pousamos nossas asas e passamos em um ritual silencioso a contemplar um dos mais belos final de tarde, momento mágico providencialmente interrompido por uma voz muito grave oferecendo ajuda, um veículo típico do local, pequena charrete conduzida pelo amigo Beto charreteiro de Galinhos e sua dedicada Burra Morena, abençoada colaboração em nos conduziu a uma pequena residencia de nativos que nos ofertou uma refeição muito digna e deliciosa, pois já fazia mais de 12 horas que não colocava nada, além de água na barriga.

Galinhos é um local mágico,banhado por um lado pelo mar azul e do outro por um rio de águas cristalinas, povoado que goza de uma localização privilegiada, um verdadeiro presente da natureza, realçada por uma paz inquietante em um palco que lembra em muito um conto de fadas, uma característica bem simples, porém inusitada pra nós, daquele pedacinho do Céu, é de praticamente não haver automóveis, somente os tracionados e desde que enfrentem mais de 80 quilômetros de trilhas pela praia, toda essa tranquilidade é somada a simpatia e alegria de seus habitantes resultando em uma energia extraordinária, que àquela altura nos colocava no topo do mundo.      



Chegada triunfal em Galinhos



Cabo de São Roque

Momento de descanso 



              


domingo, 20 de novembro de 2016

Diário de bordo, 10 dias no mar! Rota dos Ventos...


Fredy

Ao contrário do meu último projeto de donwind em 2014 - Kite Selva - essa última aventura nasceu pela minha própria inércia, sempre, fui muito inquieto e pra falar a verdade nunca consegui ficar sem um projeto de aventura por muito tempo, foi assim no surf, no voo livre e não seria diferente no kite, havia dentro de mim um sentimento de vazio talvez gerado pelo insucesso do velejo entre o litoral ocidental do Maranhão até a Praia de Salinas no Pará que de certa forma até hoje se constitui em uma ferida aberta em minha vida esportiva, sempre que pensava em alguma viagem ou quaisquer ideia no Kite vinha a mente os dias difíceis vividos por mim e o amigo Anderson  Brederode na Baía  de Turiaçu em 2014. De uma forma ou de outra havia dentro de mim uma necessidade em substituir àquela inglória experiencia por um tema diferente, realizei várias Trip´s nesse ínterim com amigos peguei altas ondas no Perú em duas oportunidades mas era como se faltasse alguma coisa. É bem verdade que até tentei retornar o Projeto Kite Selva no ano seguinte 2015, infelizmente por conta do estado de saúde de meu Pai novamente não tive como realizar, ele descansou exatamente na semana programada para a segunda tentativa. Em 2014 tive o cuidado de me preparar por quase um ano para o desafio, preparação física e metal, foram meses  a fio de estudos da região, pesquisas, alimentação e muita determinação, dessa vez, no entanto, a ideia do último donwind veio de uma brincadeira com a sempre amiga colaboradora Beth que sempre me estimula nas minhas viagens, talvez ela me conheça melhor que eu mesmo, sabe exatamente o momento que vou começando a azedar e a partir disso nada melhor que encarar um novo desafio para acalmar a cabeça e entrar na vida rotineira de sempre, por outro lado sempre respeitei muito o feito dos amigos Anderson e Baygon em sua inédita tirada entre Recife a Fortaleza em uma época que não se falava muito nesse tipo de velejo, então, seria um ótimo começo, minha próxima viagem seria : Velejar de Recife a capital mundial do vento, Fortaleza...

Mapa Missão kite selva

Quando se tem mais de 55 anos começamos a ver a vida de um forma particular, sabemos exatamente o que nos faz bem e as situações que não nos agrada, a vida é feito um cronometro de trás pra frente, quando zeramos acaba nosso tempo, somente com o avançar da idade tomamos consciência que temos muito tempo para realizar nossos planos mas na maioria das vezes nos falta foco e ai a vida se esvai, dai surge a necessidade em uma constate revisão de rumos, avaliar com muito mais cuidado nossos projetos, ademais o receio do insucesso passa a ter um peso maior, além da inevitável  companhia permanente dos progressivos sinais naturais do corpo, comprometimento com trabalho e compromissos naturais com a família..
Pois bem, ponderando todo esse contexto, inadvertidamente, decidi realizar a jornada de dez dias que acabaram sendo inesquiváveis, que passo a relatar adiante.

Teria que ser um pouco diferente, não há a menor graça em repetir o que já foi feito, porém tão grandioso quanto o feito pelos amigos citados acima, decidi então sair com alguns quilômetros a mais e mais, teria que velejar em um trecho até então inédito, passar pelo antigo Porto de Recife velejando, isso por si só já seria a cereja do bolo, sempre quis fotografar um cartão postal da minha cidade por um angulo diferente, pra quem conhece o lugar sabe bem que além de bela é uma região sinistra de nosso litoral com inúmeros relatos de aparecimento de tubarões. A decisão foi tomada, iria fazer um donwind ( velejar a favor do ventos) de Recife a Fortaleza saindo da Praia do Pina, e mais, teria que ser logo, para aproveitar o restinho da curta temporada de ventos do nosso estado. Aqui em Pernambuco quando o vento supera os 12 knós há uma agitação nas redes sociais para marcar o velejo do dia. Para dar seguimento a ideia  era somente esperar uma boa condição de vento e partir para a realização de um sonho, ou talvez, apagar de um pesadelo vivido na última tentativa de donwind de longa distancia.
Foi quando cometei com um grande amigo parceiro no esporte Cacá Wolpert que sempre absorve de pronto qualquer empreitada apresentada por mim, até mesmo as mais insanas, nossa química na prática dos esportes foi sempre muito legal, que de pronto afirmou  " ei blodder, estou dentro " Oxê, sério, fazer aquilo na companhia de uma amigo seria arretado demais, princialmente com uma figura muito bem preparada, Sargento do Corpo de Bombeiro altamente qualificado. A essa altura só faltava uma boa condição de vento e o inusitado companheiro conseguir uma dispensa no trabalho.
Esperamos alguns dias, foi quando, por  ocasião da entrada de uma frente fria haveria vários dias de excelente condição, preparamos nossas mochilas e marcamos pra sair em uma sexta feira, dia 09/09,
Cacá havia conseguido 14 dias de dispensa, perfeito ! Marcamos sair as 07 horas da matina para não sermos impedidos pelos colegas de trabalho do amigo, pois a praia escolhida para saída é proibida à prática de esporte aquáticos por conta dos últimos ataques de Tubarão. Infelizmente o vento não deu seu ar da graça, chuva o dia todo, os coqueiros da praia nem mexiam a palha, parecia mais um quadro -  não tem problema amigo, saímos amanhã - combinamos, e realmente a condição melhorou um pouco, mas não o suficiente para uma travessia tão sinistra do primeiro trecho...
Pra falar a verdade foi uma das decisões mais difíceis que tomei e pra complicar mais havia uma pequena plateia de amigos apoiadores que inevitavelmente seriam testemunhas de um eventual fracasso, depois, durante a viagem meu inseparável companheiro brincou comigo - Puts Blodinho estava na esperança que abortasse a missão - mas uma vez caveira...

Partimos para nosso desafio com um tempo cabuloso, vento de uns 12 knós, que é ótimo pra nos velejadores Pernambucanos, embalados por uma nuvem sinistra de chuva, fizemos o primeiro trecho, uns 10 quilômetros em cerca de 40 minutos, totalmente temerosos com uma indesejada piora nas condições que certamente iria comprometer todo projeto e talvez nossas vidas, ficar a deriva naquela parte do litoral sem área de escape é um verdadeiro suicídio...

Nessa primeira travessia ainda não tinha noção exata do tamanho do desafio, já havia mentalizado a importância de não pensar no destino final, a ideia sempre foi de se divertir com o processo, aproveitar cada minuto da aventura conhecer cada pedacinho de praia, sem necessariamente pensar na conclusão, o destino final deveria ser uma recompensa natural por toda a jornada e pra falar a verdade, hoje após alguns dias da realização do feito - de cabeça fria -  totalmente realizado cheguei a conclusão que certamente foi a melhor estrategia, essa atitude meia irresponsável tirou completamente a ansiedade e o peso de nossas cabeças.

Gostaria muito que o legado dessa aventura permitisse outros velejadores embarcar conosco nessa jornada, então vou desarrumar um pouco o texto para poder organizar mais a frente...

O que é o Projeto Rota dos Ventos ?

Consiste na ideia de conhecer mais de cem Praias entre Recife e Fortaleza com maior enfoque ao litoral do Rio Grande do Norte por conta de toda suas riquezas naturais com Praias alucinantes que tem sido ao logo dos anos um fonte natural de energia para toda minha carreira como velejador de Kite, uma região muito pouco explorada com locais praticamente intocados pelo homem, onde a natureza grita em cada pedacinho de Praia e é logico com vento forte praticamente o ano todo e a possibilidade em encontrar vários amigos nesse trecho, bem simples não é mesmo?


Mapa Rota dos Ventos


Relação de Praias litoral norte de Pernambuco:


  1. Praia do Pina
  2. Praia Del Chifre
  3. Praia de Milagres
  4. Praia do Carmo
  5. Praia do Farol
  6. Praia Bairro Novo
  7. Praia da Casa Caiada
  8. Praia do Rio Doce
  9. Praia do Janga
  10. Praia de Pau Amarelo
  11. Praia da Conceição
  12. Praia da Nossa Senhora do Ó
  13. Praia da Maria Farinha
  14. Praia da Gavoa
  15. Praia do Capitão ( Mangue Seco )
  16. Praia da Coroa do Avião
  17. Praia do Forte Orange
  18. Praia do Forno da Cal
  19. Praia do Rio Ambâr
  20. Praia da Baixa Verde
  21. Praia do Quatro Contos
  22. Praia do Pilar
  23. Praia do Jaguaribe
  24. Praia do Sossego
  25. Praia da Enseada dos Golfinhos
  26. Praia de Lance dos Cações
  27. Atapuz
  28. Praia do Pontal da Ilha
  29. Praia de Pontas de Pedras
  30. Praia de Barra de Catuama 
  31. Praia de Catuama
  32. Praia de Carne de Vaca 
Relação de Praias da Paraíba

  1. Pedra do Galé
  2. Croas
  3. Pontinhas
  4. Praia de Acaú
  5. Praia de Santa Rita
  6. Ponta de Couqueiros
  7. Praia dos Marlim
  8. Praia dos Mariscos
  9. Praia Azul
  10. Praia da Guarita
  11. Praia de Pimtibu
  12. Praia do Pontal
  13. Praia das Falésias
  14. Praia da Barra do Abiai
  15. Praia do Graú
  16. Praia Bela
  17. Praia de Tambaba 
  18. Praia de Couquerinho
  19. Praia de Tabatinga
  20. Praia de Carapibus
  21. Praia de Jacumã
  22. Praia do Amor
  23. Praia da Barra de Gramame
  24. Praia do Sol
  25. Praia de Jacarapé
  26. Praia da Penha
  27. Praia dos Seixas
  28. Praia do Cabo Branco
  29. Picãozinho
  30. Praia de Tambaú
  31. Praia de Manaíra
  32. Praia do Bessa
  33. Praia Fluvial do Jacaré
  34. Praia de Intermares
  35. Praia da Ponta de Campina
  36. Ilha de Areia Vermelha
  37. Praia do Poço
  38. Praia de Camboinha
  39. Praia Formosa
  40. Praia de Areia Dourada
  41. Praia da Ponta de Matos
  42. Praia do Miramar ou do Dique de Cabedelo
  43. Praia de Fagundes
  44. Praia da Ponta de Lucena
  45. Praia Gameleira
  46. Praia Costinha
  47. Praia do Oiteiro
  48. Praia de Campina
  49. Praia de Barra do Mamanguape
  50. Praia da Campina
  51. Praia da Trincheira
  52. Praia do Forte
  53. Praia do Tambá
  54. Praia Giz Branco
  55. Praia de Coqueirinho
  56. Praia das Cardosas
  57. Praia de Camaratuba
  58. Praia da Baleia
  59. Praia da Pavuna
  60. Praia de Guaju
     Relação de Praias do Rio Grande do Norte
     Litoral Sul - Não encontrada na sua totalidade
 
     Relação de Praias do Ceará - segundo a rota.

  1. Manibú
  2. Peixe Gordo
  3. Melancias
  4. Tremembé
  5.  Quitéria
  6. Quitérias
  7. Mutamba
  8. Praia de Barreiras
  9. Praia dos Picos
  10. Praia de Peroba
  11. Praia de Redonda
  12. Praia da Ponta Grossa
  13. Retiro Grande
  14. Praia do Retirinho
  15. Fontanhia
  16. Lagoa do Mato
  17. Praia da Quixaba
  18. Praia da Majorlandia
  19. Porto de Canoa
  20. Praia de Canoa Quebrada
  21. Fortim
  22. Canto da Barra
  23. Pontal de Maceió
  24. Praia da Gamboa


Primeiro dia!

Voltando a ordem natural de nossa aventura a primeira grande vitoria foi chegar em Olinda, passar por toda extensão do Porto de Recife com aquela condição de vento foi realmente um feito, tirei várias fotos do Marco Zero no angulo que sempre havia imaginado, do mar pra terra, e sempre com maior cuidado pra não deixar o kite cair na água, pois sempre soube que aquela parte do mar é bastante povoada por Tubarões sem a menor área de escape, um muro cavernoso de pedras que deu o nome a nossa Cidade " Arrecifes ". Estava eufórico com aquela pequena conquista, já tinha valido o dia, mas bastou olhar pra trás pra ter a primeira preocupação da jornada, meu companheiro estava com o kite na água, não sabia ao certo o que havia acontecido, vinhamos tão bem.

Com muita experiencia e habilidade o Cacá conseguiu escalar um muro de Pedras, diga de passagem atrapalhando a pescaria de uma galera e retirou todo seu equipamento com muita cautela sem nenhum incidente pra constatarmos que uma linha havia rompido, mas como? Uma linha rompida? Em meus 17 anos de velejo só havia passado por incidente como esse duas vezes, nessa ocasião é um dia antes, em uma sessão animal de Kite wave no litoral Sul de Pernambuco, onde foram rompidas todas as linhas por ter sido literalmente engulido por uma onda da série. Não acreditei o que tá acontecendo? Será um sinal? Que nada, apenas uma pequena dificuldade para ser  superada, desviei rapidamente o mau pensamento, é incrível, mas quando há insegurança permitimos nossos pensamentos devagar  e acabamos por alimentar misticismo, voltei rapidamente ao foco do objetivo do dia que apenas começava e já eram mais de 13 horas.

Mantendo nossa moral elevada com a inusitada travessia procuramos remediar nosso problema tentando emendar a mau lograda linha, só havia um detalhe, a linha havia rompido bem no inicio, tivemos que sacrificar um pedaço considerável de outra linha tentando aplicar nossa habilidade de escoteiro, tendo que sacrificar o equilíbrio natural do Kite, bem amigos, perdemos um tempo importante naquela oficina a céu aberto, pra quem queria pernoitar em João Pessoa nosso dia tinha furado, pensei, esse sem dúvida será o menor donwind da história, foi quando por obra de Deus um amigo sempre prestativo, Renan, filho da Beth, surgiu do nada chegando a nado no banco de areia que estávamos para sugerir a troca da barra, essa simples atitude literalmente salvou nossa aventura, pelo menos por hora.  

Retornamos nosso velejo com toda energia renovada, nossa próxima parada seria a Escola do Cacá que fica na Praia de Maria Farinha uns 10 quilômetros adiante onde um amigo nos esperava para acompanhar nossa jornada. Fizemos nossa hidratação programada e seguimos, a essa altura já passava das três horas da tarde, só haveria no máximo mais 2 horas de velejo até escurecer.

Desse momento em diante passamos a relaxar e começamos a ter prazer na jornada que até então era só problemas, observar toda beleza do litoral norte de Pernambuco, encontramos com mais um amigo que nos acompanhou por mais algumas Praias o vento tinha finalmente estabilizado na casa dos 12 a 14 knós que era suficiente para manter uma boa velocidade até atravessamos a fronteira entre Pernambuco e a Paraíba, nesse momento o sol já bem encoberto por nuvens, teríamos no máximo mais alguns minutos de luz, paramos para nos localizar na Praia de Acaú, foi quando percebemos que o amigo que nós acompanhava não havia conseguido atravessa uma barra, pensamos até em voltar para ajudar, foi quando o meu companheiro lembrou que ele estava com GPS e devidamente monitorado por sua namorada. Vamos nessa então, temos pelo menos 20 minutos até escurecer. Partimos tentando recuperar um pouco do atraso, até que  inadvertidamente o vento caprichosamente parou de soprar e virou pra terral, com muito trabalho conseguimos chegar a Praia sem nenhuma energia. Pra quem pratica o kite sabe que não há nada pior do que velejar sem vento. Paramos, olhamos um para o outro e silenciosamente começamos a guardar nossos equipamentos para procurar um lugar pra dormi, por sorte encontramos uma casal na praia que nos orientou a andar algumas centenas de metros que em seguida havia uma pousada, foi quando soubemos que havíamos chegado à praia de Pimtibu, pelo menos pra amenizar conseguimos sair do nosso Estado cruzando a primeira fronteira.           
 Sem a menor sobra de dúvida uma grande conquista, dado a quantidade de incidentes e pela condição de vento foi muito bom para finalizar nosso primeiro dia de jornada.

Porto de Recife



Inicio na Praia de Boa Viagem 

Porto do Recife



Segundo dia ! 
O segundo dia começou com um misto de receio e muita adrenalina com a falsa convicção que haviamos superado o pior trecho, essa sensação se ampliou com a chegada inusitada de minha querida esposa e um casal de amigos que haviam nos acompanhando no dia anterior. A partir daquele momento passei a observar algumas novas sensações que pairava na minha mente que até então nunca havia dado importância a elas, como uma constante sensação de incerteza que só podeira ser preenchida pela Fé.
Saímos por volta de meio dia, a essa altura o vento tinha baixado um pouco comparando com inicio da manhã, mas afinal o encontro com minha esposa valeria a pena lograr algumas horas a menos de velejo. Cerca de apenas alguns minutos de velejo tivemos uma grata surpresa, encontramos uma Praia fantástica, até então desconhecida com um alto potencial de surf, um pedacinho de litoral que por si só já justificaria toda a viagem, sem poder aproveitar aquele insólito lugar seguimos viagem rompendo todo litoral sul da Paraíba, muito pouco explorado que é simplesmente lindo, passamos por praias desertadas, praias de nudismo, baias, cabos e enseadas até chegar a Cabo Branco que desnuda de forma majestosa uma vista singular de toda cidade de João Pessoa. A essa altura um cansaço natural já nos acompanhava, paramos então para um breve descanso em um spot conhecido dos velejadores de João Pessoa e interrompemos a companhia derradeira do amigo que estava nos acompanhando e passamos a velejar por uma parte do litoral totalmente desconhecida passamos pelo esplendoroso Farol de Cabedelo que sinaliza uma larga barra, desse ponto em diante tudo era mágico pra mim, apesar de várias horas de trabalho no dia todos meus músculos queriam mais, a cada Praia nova um novo visual se abria em nossa frente. Existe um trecho nessa área que é extremamente propicio para o surf em pontos do litoral totalmente inóspitos onde o acesso só é possível pela praia, cercado por uma vigorosa faixa de mata atlântica e falésias, são intermináveis quilômetros  de praias com muitas ondas que nos permitiu um verdadeiro prazer de surfar ondas novas. Após cerca de uma hora o cansaço e dores musculares se estalou definitivamente, os dois dias de velejo constate já cobrava sua fatura, um incomodo desconforto no antebraço direito lembrava uma tendinite que carrego a muito tempo agravada por todo esforço em velejar apenas em uma base com o pé direito a frente da prancha.
Há aquela altura sem dúvida a viagem já nos presenteava, a euforia só foi rompida quando passamos por aquele pedacinho de praia que se apresentava, a beleza de praia serviu para uma breve pausa para procurar saber pelo menos o nome daquele lugar, Praia de Coqueirinho, que sem dúvida é uma daquelas lugares que nos aproxima do criador. Há essa altura o sol já se escondia por trás de algumas nuvens anunciando um por do sol resplendoroso que não tardava a chegar, lembrando que faltava muito para chegar no nosso ponto de parada do dia, temos de ser mais rápidos e objetivos para aproveitar o vento que soprava vigorosamente, poucos quilômetros a frente chegamos a Baía da Traição com uma visão que simplesmente não sairá da mente, ao fundo todas as cores características do por do sol nordestino e a proximidade de um farol caprichosamente construído no meio do mar acima de uma bancada de pedras Naquele instante não havia dúvida que chegaríamos em Barra de Camaratuba, o pensamento de alegria substituía todo o esforço e nós presenteava com uma carga extra de energia. Foi quando, como no dia anterior o vento simplesmente parou, a textura do mar mudou de tons brancos de espuma para um espelhado aterrador, estávamos bem dentro do mar e deixar o kite cair na água aquela altura seria um horror, fomos buscar energia extra onde não havia e pra falar a verdade chegamos perto do limite físico, chegamos em Camaratuba absolutamente exatos, já à noite, mas felizes, acabados, nesse momento meu parceiro me permitiu observar toda sua força mental e física desdenhando da situação com um incompressível trote a beira mar com intuito de elevar a moral, coisa de militar mesmo.

Chegada em João Pessoa

Farol na Barra de Cabedelo

Praia desertas litoral da Paraíba

Farol Baía da Traição





Terceiro dia
Depois de uma longa jornada e a certeza que havíamos recuperado um pouco do tempo perdido no primeiro dia festejamos com a companhia do amigo Romero, proprietário da charmosa Pousada Aldeia de Camaratuba que nos permitiu uma justa noite de sono. Ao acordar para nosso terceiro dia de jornada tivemos a grata noticia que nosso anfitrião nos acompanharia por cerca de 40 quilômetros até a bela Praia de Barra de Cunhaú, esse trecho é literalmente incrível e bem legal para aventureiros de primeira hora, muita onda e uma parada sensacional na Praia de Sagi afim de degustar do tradicional pastel de Arraia, chegamos em nossa primeira parada por volta de 13:30 e nos permitimos descansar 30 minutos até iniciar nosso tiro final do dia até, quem sabe Natal. É importante relatar a essa altura a constatação do primeiro erro de planejamento, subestimamos o swell e o fato de ser uma maré de lua, nessas condições a dificuldade aumenta muito e o degaste físico é muito maior, nesse dia meu joelho direito começou a assustar, dores agudas assombrava meus pensamentos, fui forçado a velejar o tempo todo com a base trocada, pé esquerdo a frente, afim de economizar uma das pernas, pra falar a verdade foi minha maior assombração física em toda jornada, tive muito receio de não conseguir administrar o desconforto onde estávamos apenas no início da viagem, minha mão, por pura teimosia estava esfolada, salva providencialmente pelo companheiro que cedeu gentilmente seu par de luvas, que inicialmente relutei erroneamente em utilizar. Nos despedimos do companheiro Romero e partimos otimistas de quem sabe poder pernoitar em Natal, seria perfeito, recuperar o tempo perdido nesse trecho, todo esse otimismo fez acelerar bastante a jornada, passamos a fazer um velejo de cruzeiro, bem por fora, só encostamos na costa na Lajinha afim de conferir a condição das ondas e contemplar a beleza do lugar, pra quem não conhece um spot alucinante, por conta da dificuldade de acesso, poucas pessoas conhece, só mesmo alguns poucos amantes locais do kitewave, logo após cruzar a praia do Amor em Pipa nós afastamos novamente da costa a fim de evitar todo rotor das belas Falésias, característica tipica desse trecho, a nossa frente avistamos uns poucos kites no ar na Barra de Tibau, porém na ânsia de tentar recuperar um  pouco do tempo, inadvertidamente cometemos um erro de não parar, para pelo menos, um breve descanso, mais tarde verificamos que essa atitude quase compromete toda nossa missão, Há que se registrar aos que desejem atingir grandes objetivos,  que o primeiro importante ensinamento é subtrair da mente toda ansiedade e pressa, é mais rápido fazer o certo lentamente, atingindo gradativamente  seus objetivos do que purgar as eventuais decisões precipitadas. Começa ali, logo após Timbau um dos piores trechos da Trip o mar fica extremamente turbulento, principalmente na maré grandes, por conta de uma bancada de pedras muito extensa que segue caprichosamente todo relevo da orla, tornando impossível efetuar uma eventual parada, se fosse no início de jornada essa dificuldade não se constituiria em problema, no entanto, já com várias horas no mar todos os músculos do corpo doíam, boca seca alguns simples movimento ficavam muito difíceis de realizar, com toda certeza o tributo cobrado pela falta de planejar melhor nossas paradas teria um preço alto.
Quando se chega no limite físico a mente começa a nos pregar peças, a expectativa de chegar em Natal já não saia da cabeça em nenhum momento, olhando para meu parceiro percebia claramente que a situação dele não era diferente da minha, não havia nenhuma possibilidade de ir a praia ondas ferozes estouravam nas pedras criando um balanço infernal tornado nosso velejo insuportável por vários intermináveis quilômetros. Foi quando avistamos uma pequena entrada, um canal de aproximadamente quatro metros que servia de portal para uma pequena enseada que mais parecia um miragem, sem exitar partimos para praia onde finalmente gozaríamos de um merecido descanso, já havia pouca luz o vento estava extremamente forte, muito rajado, pelo menos uns 30 knós, por pura distração, talvez, provocada pelo esgotamento físico um dos kites tocou a ponta em uma folha do coqueiro e simplesmente girou ficando literalmente abraçado com a copa e lentamente começou a rasgar, ficamos atônitos, observado por alguns segundos nossa jornada sendo encerrada pela aquela insólita situação. Passado a inercia inicial partimos pra cima do coqueiro com uma disposição anormal atravessando uma cerca de arame farpado e começamos a liberar nosso abençoado meio de transporte da roubada. Passado o stress conseguimos liberar a muito custo o velame constatando os danos. Passado o susto fomos procurar um lugar para dormir, encontramos uma insólita Pousada a beira mar onde a primeira impressão foi que a muito aquele estabelecimento recebia hospedes, tomamos um banho doce, guardamos nosso material e partimos em busca de uma sonhada refeição, infelizmente, apesar de algumas casas de veraneio o local mais próximo ficará a quatro quilômetros de distancia, resignadamente, sem opção partimos em busca de um mero sanduíche, meu parceiro, já prevendo o esforço de uma andada de mais quatro mil metros de volta pediu sua cota dobrada.
  
Companhia do companheiro Romero de Barra de Camaratuba
          
Observando o trecho Praia de Sagi

Travessia entre Baía da traição e Barra de Camaratuba

Chegada a Praia de Rendinha 




   
Quarto dia ! 
Dormimos como reis, nossa maior preocupação ao acordar seria consertar a asa danificada, três rasgos, por precaução havíamos levado um kit reparo bem eficiente que era constituído por um rolo de fita adesiva, uma linha reserva e uma bisnaga de cola. Pois bem, foi o bastante para deixar novinho o bem dito velame, terminamos o reparo por volta de 10 horas da manhã que já registrava um forte vento lateral, perfeito para nosso trajeto, a sensação naquele momento é que as mazelas haviam ficado pra trás, tudo de imprevisto não haveria de acontecer novamente, pelo menos era o nosso pensamento. Entramos na água por volta de 11:30 e partimos rompendo todas belas praias que antecedem a linda cidade do Sol, Natal, são aproximadamente cerca de 50 quilômetros de velejo, passando por Ponta Negra começamos a procurar  um lugar para parar, afim de hidratar o corpo e descaçar, preparando para já temida travessia da barra em que esta localizado o Forte dos Reis Magos. Avistamos uma pequena praia, um pouco antes da Praia dos Artistas em uma área meio deserta que seria perfeito, afim de preservar um pouco de privacidade em nosso merecido descaço, aportamos na praia sem problemas e logo deitamos na areia  em baixo dos nossos kites para um breve cochilo, essa inusitada siesta durou cerca de trinta minutos, tempo mais que suficiente para recarregar nossas baterias. Na realidade não sabíamos que aquele inocente descanso se transformaria na maior roubada do dia, quando chegamos na praia exaustos não havíamos percebido que todo o fundo era de pedras, entramos entre uma onda e outra e por muita sorte não acertamos o fundo, porém na hora da saída com a maré um pouco mais baixa desnudava uma gigantesca bancada por um longo trecho - Será possível - exclamei incrédulo ao parceiro !  Estudamos a roubada por longos e intermináveis minutos, até reunimos coragem e decidimos encarar a bronca - Vou primeiro Cacá e depois tu acompanha meu trajeto, esperando entre uma onda e outra parti sem medo de ser feliz, tomei logo de saída uma forte pancada no abdome mas consegui milagrosamente sair, fiquei velejando em frente aguardando meu parceiro que infelizmente não teve a mesma sorte. Logo na saída deu de quilha em uma das maiores pedras por conta do refluxo de uma onda da série, o impacto fez com que seu kite fosse arremessado para praia, fiquei por alguns instantes meio sem entender me mantendo sempre em frente ao local apesar de muitas ondas da série quebrando em todas as direções, cheguei até pensa que teria que sair novamente afim de socorrer o amigo. Passado alguns longos minutos o companheiro não sei explicar como superou o paredão de pedras e se junto comigo em formação de ala dando seguimento a nossa jornada, o resultado desse infortúnio foi um rombo de mais de um palmo na prancha e um quilha a menos, naquela altura já estávamos com o Forte dos Reis Magos e a Ponte Newton Navarro, - cartão postal de Natal - em nossa alça de mira, nesse momento o mar estava encapelado, muito turbulento com vagas enormes onde para manter as linhas esticadas do kite tínhamos que castigar nos kiteloops mesmo com ventos superior a casa dos 20 knós, alias até aquele ponto, desde a saída de Recife havia muita onda aumentando muito a dificuldade do nosso início de jornada, exigindo mais do preparo físico, no entanto observamos claramente que após cruzar a temida barra e começar a se aproximar da Praia de Rendinha nosso velejo mudou totalmente o mar ficou mais liso com poucas ondulações que naquela altura para o rendimento de nossa viagem, a jornada ficou extremamente confortável, queríamos adiantar o máximo possível e passamos por belíssimas praias iluminadas pelos últimos raios de sol do dia, tudo indicava que teríamos um final de tarde bem melhor que no dia anterior, uma indescritível sensação de alegria tomou conta começamos a cantar e velejar examinado cuidadosamente cada pedacinho de encosta já em busca do lugar do nosso pernoite. É incrível que quando nos lançamos em situações que efetivamente não temos o controle e colocamos nossa fé para nos guiar coisas muito boas passam  a acontecer, normalmente quando começamos um dia normal em nossa vida rotineira temos tudo já programado, de certa forma já imaginamos como o dia acabará, nesse ponto da jornada, não sei exatamente o motivo, ao pousar minha asa na praia percebi com estava sendo fantástica nossa jornada, esses últimos dias, não havia absolutamente controle de nada e uma indescritível sensação de felicidade tomou conta de mim, logo em seguida meu companheiro aportou sua pipa e pude perceber por suas feições que a sensação dele era semelhante a minhã, era como se tivéssemos visto o passarinho azul, afinal, de fato esse final de tarde seria o primeiro sem nenhum incidente, era como se um novo portal tivesse sido aberto e a partir da li, seria só alegria, nos abraçamos e confesso que tive perto de não conseguir conter as lágrimas. Comecei a prestar atenção no lugar, era uma pequena comunidade à beira mar com uma vista inesquecível do por do sol de um lado e uma longa baia do outro, sons de crianças brincando, uma harmonia pairava no ar  entre a natureza e seus habitantes o lugar emanava uma profunda paz, foi quando inadvertidamente me dirigi a um senhor que estava atentamente nos observando acompanhado de alguns jovens e perguntei  - Qual o nome desse paraíso?
Foi ai que o primeiro anjo da guarda se encorporou a nossa jornada, seu nome de Guerra: Casquinha, uma figura humana sem igual, jogador de Futebol profissional aposentado com vários seguidores o verdadeiro embaixador de Barra de Maxaranguape, batemos toda a cidade em busca de um Pousada sem sucesso, já estávamos imaginando que iriamos pernoitar em baixo de uma barraca abandonada, quando nosso salvador nós levou para sua casa fazendo valer a valorosa hospitalidade nordestina, cedeu sua cama para meu companheiro que literalmente perdeu os sentidos em um sono profundo embalado pelo som das muriçocas.

Momentos antes da saída Praia de Tabatinga 

Recepcionado pelo amigo Casquinha Barra de Maxaranguape

Soneca em Ponta Negra

Ponte Newton Navarro





quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

BATE VOLTA, VALEM A PENA ?


Bate Volta !

Alguns companheiros sempre me questionam se vale a pena realizar bate volta longo, pois bem, não há a menor dificuldade em responder, vale demais! É sempre muito bom desfrutar da companhia especial de amigos em locais inusitados, principalmente essa época de pouco vento.
Essa semana quatro amigos: Eu, Cacá Wolpet, Anderson Brederode e Icaro,  rodamos cerca de 900 km para desfrutar de um prometido swell de norte, especial no litoral oeste do Rio Grande do Norte, infelizmente a prometida condição não correspondeu as expectativas, esperávamos mais onda, no entanto vento não faltou, alias foram horas mágicas de muito velejo e surf  a sintonia da galera foi sem dúvida o ponto alto da trip, que venham os próximos...


Cacá aproveitou para comemorar seu aniversário - Belo presente !

Direitas pequenas, mas bem divertidas

As esquerdas quebravam no up wind, ótimas para o surf

Kite, surf e o rabeirador 

Kite & Surf

Muita diversão

Seguindo o por do sol

Foram dois dias especiais

Mais uma da serie, vem nego atrás 

Sol e vento não faltou

Até a próxima