sábado, 26 de agosto de 2017

10 dias no mar - Parte 2


Quinto dia !        

Acordamos com uma disposição incomum, nosso anfitrião transmitia uma energia maravilhosa e uma boa prosa, nós falando de toda sua experiencia de vida, uma criatura de Deus, sem dúvida. As condições perfeitas de vento já se apresentava no inicio da manhã, fizemos nosso desejum com o novo amigo e em seguida fomos a praia iniciar os trabalhos, desde o segundo dia, passamos a fazer rotineiramente uma oração que alimentava nossa alma e enchia nossos corações de alegria e coragem, iniciamos nosso velejo em um dos trechos mais interessantes da viagem, passamos pela árvore do amor, Cabo de São Roque, Maracajaú, Rio do Fogo,  e tantos outros locais de beleza singular, todo esse percurso foi realizado a  apenas poucos metros da orla com visuais inesquecíveis, a meta era um desejado pernoite em São Miguel do Gostoso, marco da metade do trecho final a ser percorrido até Fortaleza, esse trecho é muito interessante, pois a cada curva se desnuda um novo visual, Cabos, Bahias, Enseadas, pequenos córregos em uma beleza singular, sempre acompanhados ora por tartarugas ora por golfinhos, vento constante que refresca sem descanso vários povoados no trajeto, efetuamos uma parada pra descanso, já à tarde, aos pés do vistoso Farol de Touros, minutos abençoados, necessário a reposição física e uma breve reflexão da grandiosidade desses dias fantásticos vividos entre dois amigos e o mar. 

Nesse momento já não havia dúvida que atingiríamos nossa meta, a possibilidade da chegada a São Miguel do Gostoso criava uma euforia justificada, além de ultrapassar a imaginária linha da metade da viagem seria o lugar sagrado, pelo menos pra mim, pois escolhera o local para depositar as cinzas do meu saudoso Pai, desde sua partida havia guardado suas cinzas para que oportunamente ele pudesse desfrutar da vida magnifica que me concedeu,  além de se integrar definitivamente a natureza que sempre desejara.  Havíamos adiantado bastante, poderíamos até velejar mais e quem sabe pernoitar em Caiçara do Norte, mais o Gostoso é um lugar especial,  havia sido um dos meus primeiros palcos na prática do kite. Levantamos o acampamento e passamos a velejar em estado de graça em cerca de quarenta minutos estávamos chegando ao desejado ponto final do dia que foi esplendidamente iluminado por um por do sol mágico, um verdadeiro presente para meu Pai. Andamos uns quinhentos metros até chegar a Pousada do amigo Fábio um italiano com coração brasileiro muito querido que nos recebeu com todas as honras, nós concedendo um verdadeiro manjar, e logo apos essa magnifica refeição ainda nos forneceu ajuda e material para amenizar a situação da prancha de Cacá, não é necessário afirmar que dormimos como pedras. Afinal, os últimos dois dias haviam sido magníficos , nenhum incidente, rendimento dentro do esperado e a presença de dois colaboradores formidáveis.  

Um pouco antes da nossa aventura começar,conversando com meu filho, ele deu uma ideia que passamos a adotar, já a partir do primeiro dia e que se transformou em um verdadeiro diferencial na jornada - para mandar noticias e interagir com as pessoas hoje Pai não há nada melhor que a transmissão direta através do Face  - afirmou categoricamente Daniel, e realmente esse canal diário aberto com as pessoas que nos acompanhava foi extremamente importante, os comentários e mensagens de força recebidos pelos amigos se constitui em uma poderosa ajuda suplementar, nos concedendo muita energia, além de nos motivar, esse canal, com certeza servirá no futuro como um referencial de outras trips, bem como proporcionar um diário dinâmico de bordo compartilhado em tempo real,  as transmissões matinais transformou-se em uma deliciosa função de relatar o que havíamos passado no dia anterior, o que estávamos sentido a cada trecho da viagem como também nossos planos.     


Farol de Touros, local para um breve cochilo 

Rango abençoado oferecido pelo Amigo Fábio na Pousada Gostoso Village


Momento de contemplação em Rio do Fogo 


    
           

Sexto dia !

Descaçados, bem alimentados e bastante motivados nos dirigimos a Ponta de Santo Cristo para dar inícios aos trabalhos normais de preparação, alongamento, discussão do roteiro, oração e partida, a principio nosso anfitrião desejava nos acompanhar pelo menos até a praia do Marco, distante 20 quilômetros de São Miguel do Gostoso, um trecho bem legal, passado por várias praias bacanas em sua grande maioria desertas, no entanto, por falta de transporte de volta a presença do amigo conosco foi por água abaixo, logo na saída, por conta dos fortes ventos tivemos um pequeno incidente com a pipa do Cacá, gerando um atraso fora da programação. 

Eventuais contratempos nos preocupava muito, sempre antes de cada trecho estabelecíamos uma meta basicamente fundamentada em quantidade de horas na água, por experiencia em outras tiradas constatei que velejávamos em uma velocidade média de 16 quilômetros por hora, dentro desse parâmetro estabelecíamos nossos pontos de paradas, então eventuais atrasos ião colocando em risco todo o roteiro, gerando um indesejado stress que inevitavelmente colocava pressão em nossas decisões, um verdadeiro circulo virtuoso de roubadas ou de êxito. 

Fizemos uma parada rápida na praia do Marco para tomar água e seguimos adiante em uma região, até então desconhecida passamos a velejar no piloto automático com pano de fundo um litoral exuberante com grandes distancias de praias desertas com incontáveis  torres de energia eólicas, indicador objetivo de muito vento, logo após do meio da tarde passamos por um pequeno vilarejo que abrigava dezenas de embarcações que indicava ser o último lugar povoado até a chegada ao nosso ponto final daquele dia que seria a paradisíaca praia de Galinhos, pelo adiantar da hora havia um receio em não conseguir chegar com luz do dia, nos afastamos do litoral procurando um angulo favorável a velejar mais rápido entre uma ponta a outra, era curioso que em muitos momentos nesse trecho o vento simplesmente acabava, sem aviso com céu limpo, ou seja sem nenhum indicador, acredito tratar-se de uma característica natural da região. Faltando muito pouco para o sol tocar no oceano em uma mistura de cores inesquecível passamos a avistar, com muita dificuldade, um kite na linha do horizonte contrastando com últimos raios de sol anunciando que nossa chegada em Galinhos seria triunfal.

Absolutamente esgotados com todas nossa reservas consumidas pousamos nossas asas e passamos em um ritual silencioso a contemplar um dos mais belos final de tarde, momento mágico providencialmente interrompido por uma voz muito grave oferecendo ajuda, um veículo típico do local, pequena charrete conduzida pelo amigo Beto charreteiro de Galinhos e sua dedicada Burra Morena, abençoada colaboração em nos conduziu a uma pequena residencia de nativos que nos ofertou uma refeição muito digna e deliciosa, pois já fazia mais de 12 horas que não colocava nada, além de água na barriga.

Galinhos é um local mágico,banhado por um lado pelo mar azul e do outro por um rio de águas cristalinas, povoado que goza de uma localização privilegiada, um verdadeiro presente da natureza, realçada por uma paz inquietante em um palco que lembra em muito um conto de fadas, uma característica bem simples, porém inusitada pra nós, daquele pedacinho do Céu, é de praticamente não haver automóveis, somente os tracionados e desde que enfrentem mais de 80 quilômetros de trilhas pela praia, toda essa tranquilidade é somada a simpatia e alegria de seus habitantes resultando em uma energia extraordinária, que àquela altura nos colocava no topo do mundo.      



Chegada triunfal em Galinhos



Cabo de São Roque

Momento de descanso