Fredy
Ao contrário do meu último projeto de donwind em 2014 - Kite Selva - essa última aventura nasceu pela minha própria inércia, sempre, fui muito inquieto e pra falar a verdade nunca consegui ficar sem um projeto de aventura por muito tempo, foi assim no surf, no voo livre e não seria diferente no kite, havia dentro de mim um sentimento de vazio talvez gerado pelo insucesso do velejo entre o litoral ocidental do Maranhão até a Praia de Salinas no Pará que de certa forma até hoje se constitui em uma ferida aberta em minha vida esportiva, sempre que pensava em alguma viagem ou quaisquer ideia no Kite vinha a mente os dias difíceis vividos por mim e o amigo Anderson Brederode na Baía de Turiaçu em 2014. De uma forma ou de outra havia dentro de mim uma necessidade em substituir àquela inglória experiencia por um tema diferente, realizei várias Trip´s nesse ínterim com amigos peguei altas ondas no Perú em duas oportunidades mas era como se faltasse alguma coisa. É bem verdade que até tentei retornar o Projeto Kite Selva no ano seguinte 2015, infelizmente por conta do estado de saúde de meu Pai novamente não tive como realizar, ele descansou exatamente na semana programada para a segunda tentativa. Em 2014 tive o cuidado de me preparar por quase um ano para o desafio, preparação física e metal, foram meses a fio de estudos da região, pesquisas, alimentação e muita determinação, dessa vez, no entanto, a ideia do último donwind veio de uma brincadeira com a sempre amiga colaboradora Beth que sempre me estimula nas minhas viagens, talvez ela me conheça melhor que eu mesmo, sabe exatamente o momento que vou começando a azedar e a partir disso nada melhor que encarar um novo desafio para acalmar a cabeça e entrar na vida rotineira de sempre, por outro lado sempre respeitei muito o feito dos amigos Anderson e Baygon em sua inédita tirada entre Recife a Fortaleza em uma época que não se falava muito nesse tipo de velejo, então, seria um ótimo começo, minha próxima viagem seria : Velejar de Recife a capital mundial do vento, Fortaleza...
Mapa Missão kite selva
Quando se tem mais de 55 anos começamos a ver a vida de um forma particular, sabemos exatamente o que nos faz bem e as situações que não nos agrada, a vida é feito um cronometro de trás pra frente, quando zeramos acaba nosso tempo, somente com o avançar da idade tomamos consciência que temos muito tempo para realizar nossos planos mas na maioria das vezes nos falta foco e ai a vida se esvai, dai surge a necessidade em uma constate revisão de rumos, avaliar com muito mais cuidado nossos projetos, ademais o receio do insucesso passa a ter um peso maior, além da inevitável companhia permanente dos progressivos sinais naturais do corpo, comprometimento com trabalho e compromissos naturais com a família..
Pois bem, ponderando todo esse contexto, inadvertidamente, decidi realizar a jornada de dez dias que acabaram sendo inesquiváveis, que passo a relatar adiante.
Teria que ser um pouco diferente, não há a menor graça em repetir o que já foi feito, porém tão grandioso quanto o feito pelos amigos citados acima, decidi então sair com alguns quilômetros a mais e mais, teria que velejar em um trecho até então inédito, passar pelo antigo Porto de Recife velejando, isso por si só já seria a cereja do bolo, sempre quis fotografar um cartão postal da minha cidade por um angulo diferente, pra quem conhece o lugar sabe bem que além de bela é uma região sinistra de nosso litoral com inúmeros relatos de aparecimento de tubarões. A decisão foi tomada, iria fazer um donwind ( velejar a favor do ventos) de Recife a Fortaleza saindo da Praia do Pina, e mais, teria que ser logo, para aproveitar o restinho da curta temporada de ventos do nosso estado. Aqui em Pernambuco quando o vento supera os 12 knós há uma agitação nas redes sociais para marcar o velejo do dia. Para dar seguimento a ideia era somente esperar uma boa condição de vento e partir para a realização de um sonho, ou talvez, apagar de um pesadelo vivido na última tentativa de donwind de longa distancia.
Foi quando cometei com um grande amigo parceiro no esporte Cacá Wolpert que sempre absorve de pronto qualquer empreitada apresentada por mim, até mesmo as mais insanas, nossa química na prática dos esportes foi sempre muito legal, que de pronto afirmou " ei blodder, estou dentro " Oxê, sério, fazer aquilo na companhia de uma amigo seria arretado demais, princialmente com uma figura muito bem preparada, Sargento do Corpo de Bombeiro altamente qualificado. A essa altura só faltava uma boa condição de vento e o inusitado companheiro conseguir uma dispensa no trabalho.
Esperamos alguns dias, foi quando, por ocasião da entrada de uma frente fria haveria vários dias de excelente condição, preparamos nossas mochilas e marcamos pra sair em uma sexta feira, dia 09/09,
Cacá havia conseguido 14 dias de dispensa, perfeito ! Marcamos sair as 07 horas da matina para não sermos impedidos pelos colegas de trabalho do amigo, pois a praia escolhida para saída é proibida à prática de esporte aquáticos por conta dos últimos ataques de Tubarão. Infelizmente o vento não deu seu ar da graça, chuva o dia todo, os coqueiros da praia nem mexiam a palha, parecia mais um quadro - não tem problema amigo, saímos amanhã - combinamos, e realmente a condição melhorou um pouco, mas não o suficiente para uma travessia tão sinistra do primeiro trecho...
Pra falar a verdade foi uma das decisões mais difíceis que tomei e pra complicar mais havia uma pequena plateia de amigos apoiadores que inevitavelmente seriam testemunhas de um eventual fracasso, depois, durante a viagem meu inseparável companheiro brincou comigo - Puts Blodinho estava na esperança que abortasse a missão - mas uma vez caveira...
Partimos para nosso desafio com um tempo cabuloso, vento de uns 12 knós, que é ótimo pra nos velejadores Pernambucanos, embalados por uma nuvem sinistra de chuva, fizemos o primeiro trecho, uns 10 quilômetros em cerca de 40 minutos, totalmente temerosos com uma indesejada piora nas condições que certamente iria comprometer todo projeto e talvez nossas vidas, ficar a deriva naquela parte do litoral sem área de escape é um verdadeiro suicídio...
Nessa primeira travessia ainda não tinha noção exata do tamanho do desafio, já havia mentalizado a importância de não pensar no destino final, a ideia sempre foi de se divertir com o processo, aproveitar cada minuto da aventura conhecer cada pedacinho de praia, sem necessariamente pensar na conclusão, o destino final deveria ser uma recompensa natural por toda a jornada e pra falar a verdade, hoje após alguns dias da realização do feito - de cabeça fria - totalmente realizado cheguei a conclusão que certamente foi a melhor estrategia, essa atitude meia irresponsável tirou completamente a ansiedade e o peso de nossas cabeças.
Gostaria muito que o legado dessa aventura permitisse outros velejadores embarcar conosco nessa jornada, então vou desarrumar um pouco o texto para poder organizar mais a frente...
O que é o Projeto Rota dos Ventos ?
Consiste na ideia de conhecer mais de cem Praias entre Recife e Fortaleza com maior enfoque ao litoral do Rio Grande do Norte por conta de toda suas riquezas naturais com Praias alucinantes que tem sido ao logo dos anos um fonte natural de energia para toda minha carreira como velejador de Kite, uma região muito pouco explorada com locais praticamente intocados pelo homem, onde a natureza grita em cada pedacinho de Praia e é logico com vento forte praticamente o ano todo e a possibilidade em encontrar vários amigos nesse trecho, bem simples não é mesmo?
Mapa Rota dos Ventos
Relação de Praias litoral norte de Pernambuco:
- Praia do Pina
- Praia Del Chifre
- Praia de Milagres
- Praia do Carmo
- Praia do Farol
- Praia Bairro Novo
- Praia da Casa Caiada
- Praia do Rio Doce
- Praia do Janga
- Praia de Pau Amarelo
- Praia da Conceição
- Praia da Nossa Senhora do Ó
- Praia da Maria Farinha
- Praia da Gavoa
- Praia do Capitão ( Mangue Seco )
- Praia da Coroa do Avião
- Praia do Forte Orange
- Praia do Forno da Cal
- Praia do Rio Ambâr
- Praia da Baixa Verde
- Praia do Quatro Contos
- Praia do Pilar
- Praia do Jaguaribe
- Praia do Sossego
- Praia da Enseada dos Golfinhos
- Praia de Lance dos Cações
- Atapuz
- Praia do Pontal da Ilha
- Praia de Pontas de Pedras
- Praia de Barra de Catuama
- Praia de Catuama
- Praia de Carne de Vaca
- Pedra do Galé
- Croas
- Pontinhas
- Praia de Acaú
- Praia de Santa Rita
- Ponta de Couqueiros
- Praia dos Marlim
- Praia dos Mariscos
- Praia Azul
- Praia da Guarita
- Praia de Pimtibu
- Praia do Pontal
- Praia das Falésias
- Praia da Barra do Abiai
- Praia do Graú
- Praia Bela
- Praia de Tambaba
- Praia de Couquerinho
- Praia de Tabatinga
- Praia de Carapibus
- Praia de Jacumã
- Praia do Amor
- Praia da Barra de Gramame
- Praia do Sol
- Praia de Jacarapé
- Praia da Penha
- Praia dos Seixas
- Praia do Cabo Branco
- Picãozinho
- Praia de Tambaú
- Praia de Manaíra
- Praia do Bessa
- Praia Fluvial do Jacaré
- Praia de Intermares
- Praia da Ponta de Campina
- Ilha de Areia Vermelha
- Praia do Poço
- Praia de Camboinha
- Praia Formosa
- Praia de Areia Dourada
- Praia da Ponta de Matos
- Praia do Miramar ou do Dique de Cabedelo
- Praia de Fagundes
- Praia da Ponta de Lucena
- Praia Gameleira
- Praia Costinha
- Praia do Oiteiro
- Praia de Campina
- Praia de Barra do Mamanguape
- Praia da Campina
- Praia da Trincheira
- Praia do Forte
- Praia do Tambá
- Praia Giz Branco
- Praia de Coqueirinho
- Praia das Cardosas
- Praia de Camaratuba
- Praia da Baleia
- Praia da Pavuna
- Praia de Guaju
Relação de Praias do Rio Grande do Norte
Litoral Sul - Não encontrada na sua totalidade
Relação de Praias do Ceará - segundo a rota.
Primeiro dia!
Relação de Praias do Ceará - segundo a rota.
- Manibú
- Peixe Gordo
- Melancias
- Tremembé
- Quitéria
- Quitérias
- Mutamba
- Praia de Barreiras
- Praia dos Picos
- Praia de Peroba
- Praia de Redonda
- Praia da Ponta Grossa
- Retiro Grande
- Praia do Retirinho
- Fontanhia
- Lagoa do Mato
- Praia da Quixaba
- Praia da Majorlandia
- Porto de Canoa
- Praia de Canoa Quebrada
- Fortim
- Canto da Barra
- Pontal de Maceió
- Praia da Gamboa
Primeiro dia!
Com muita experiencia e habilidade o Cacá conseguiu escalar um muro de Pedras, diga de passagem atrapalhando a pescaria de uma galera e retirou todo seu equipamento com muita cautela sem nenhum incidente pra constatarmos que uma linha havia rompido, mas como? Uma linha rompida? Em meus 17 anos de velejo só havia passado por incidente como esse duas vezes, nessa ocasião é um dia antes, em uma sessão animal de Kite wave no litoral Sul de Pernambuco, onde foram rompidas todas as linhas por ter sido literalmente engulido por uma onda da série. Não acreditei o que tá acontecendo? Será um sinal? Que nada, apenas uma pequena dificuldade para ser superada, desviei rapidamente o mau pensamento, é incrível, mas quando há insegurança permitimos nossos pensamentos devagar e acabamos por alimentar misticismo, voltei rapidamente ao foco do objetivo do dia que apenas começava e já eram mais de 13 horas.
Mantendo nossa moral elevada com a inusitada travessia procuramos remediar nosso problema tentando emendar a mau lograda linha, só havia um detalhe, a linha havia rompido bem no inicio, tivemos que sacrificar um pedaço considerável de outra linha tentando aplicar nossa habilidade de escoteiro, tendo que sacrificar o equilíbrio natural do Kite, bem amigos, perdemos um tempo importante naquela oficina a céu aberto, pra quem queria pernoitar em João Pessoa nosso dia tinha furado, pensei, esse sem dúvida será o menor donwind da história, foi quando por obra de Deus um amigo sempre prestativo, Renan, filho da Beth, surgiu do nada chegando a nado no banco de areia que estávamos para sugerir a troca da barra, essa simples atitude literalmente salvou nossa aventura, pelo menos por hora.
Retornamos nosso velejo com toda energia renovada, nossa próxima parada seria a Escola do Cacá que fica na Praia de Maria Farinha uns 10 quilômetros adiante onde um amigo nos esperava para acompanhar nossa jornada. Fizemos nossa hidratação programada e seguimos, a essa altura já passava das três horas da tarde, só haveria no máximo mais 2 horas de velejo até escurecer.
Desse momento em diante passamos a relaxar e começamos a ter prazer na jornada que até então era só problemas, observar toda beleza do litoral norte de Pernambuco, encontramos com mais um amigo que nos acompanhou por mais algumas Praias o vento tinha finalmente estabilizado na casa dos 12 a 14 knós que era suficiente para manter uma boa velocidade até atravessamos a fronteira entre Pernambuco e a Paraíba, nesse momento o sol já bem encoberto por nuvens, teríamos no máximo mais alguns minutos de luz, paramos para nos localizar na Praia de Acaú, foi quando percebemos que o amigo que nós acompanhava não havia conseguido atravessa uma barra, pensamos até em voltar para ajudar, foi quando o meu companheiro lembrou que ele estava com GPS e devidamente monitorado por sua namorada. Vamos nessa então, temos pelo menos 20 minutos até escurecer. Partimos tentando recuperar um pouco do atraso, até que inadvertidamente o vento caprichosamente parou de soprar e virou pra terral, com muito trabalho conseguimos chegar a Praia sem nenhuma energia. Pra quem pratica o kite sabe que não há nada pior do que velejar sem vento. Paramos, olhamos um para o outro e silenciosamente começamos a guardar nossos equipamentos para procurar um lugar pra dormi, por sorte encontramos uma casal na praia que nos orientou a andar algumas centenas de metros que em seguida havia uma pousada, foi quando soubemos que havíamos chegado à praia de Pimtibu, pelo menos pra amenizar conseguimos sair do nosso Estado cruzando a primeira fronteira.
Retornamos nosso velejo com toda energia renovada, nossa próxima parada seria a Escola do Cacá que fica na Praia de Maria Farinha uns 10 quilômetros adiante onde um amigo nos esperava para acompanhar nossa jornada. Fizemos nossa hidratação programada e seguimos, a essa altura já passava das três horas da tarde, só haveria no máximo mais 2 horas de velejo até escurecer.
Desse momento em diante passamos a relaxar e começamos a ter prazer na jornada que até então era só problemas, observar toda beleza do litoral norte de Pernambuco, encontramos com mais um amigo que nos acompanhou por mais algumas Praias o vento tinha finalmente estabilizado na casa dos 12 a 14 knós que era suficiente para manter uma boa velocidade até atravessamos a fronteira entre Pernambuco e a Paraíba, nesse momento o sol já bem encoberto por nuvens, teríamos no máximo mais alguns minutos de luz, paramos para nos localizar na Praia de Acaú, foi quando percebemos que o amigo que nós acompanhava não havia conseguido atravessa uma barra, pensamos até em voltar para ajudar, foi quando o meu companheiro lembrou que ele estava com GPS e devidamente monitorado por sua namorada. Vamos nessa então, temos pelo menos 20 minutos até escurecer. Partimos tentando recuperar um pouco do atraso, até que inadvertidamente o vento caprichosamente parou de soprar e virou pra terral, com muito trabalho conseguimos chegar a Praia sem nenhuma energia. Pra quem pratica o kite sabe que não há nada pior do que velejar sem vento. Paramos, olhamos um para o outro e silenciosamente começamos a guardar nossos equipamentos para procurar um lugar pra dormi, por sorte encontramos uma casal na praia que nos orientou a andar algumas centenas de metros que em seguida havia uma pousada, foi quando soubemos que havíamos chegado à praia de Pimtibu, pelo menos pra amenizar conseguimos sair do nosso Estado cruzando a primeira fronteira.
Sem a menor sobra de dúvida uma grande conquista, dado a quantidade de incidentes e pela condição de vento foi muito bom para finalizar nosso primeiro dia de jornada.
Segundo dia !
O segundo dia começou com um misto de receio e muita adrenalina com a falsa convicção que haviamos superado o pior trecho, essa sensação se ampliou com a chegada inusitada de minha querida esposa e um casal de amigos que haviam nos acompanhando no dia anterior. A partir daquele momento passei a observar algumas novas sensações que pairava na minha mente que até então nunca havia dado importância a elas, como uma constante sensação de incerteza que só podeira ser preenchida pela Fé.
Saímos por volta de meio dia, a essa altura o vento tinha baixado um pouco comparando com inicio da manhã, mas afinal o encontro com minha esposa valeria a pena lograr algumas horas a menos de velejo. Cerca de apenas alguns minutos de velejo tivemos uma grata surpresa, encontramos uma Praia fantástica, até então desconhecida com um alto potencial de surf, um pedacinho de litoral que por si só já justificaria toda a viagem, sem poder aproveitar aquele insólito lugar seguimos viagem rompendo todo litoral sul da Paraíba, muito pouco explorado que é simplesmente lindo, passamos por praias desertadas, praias de nudismo, baias, cabos e enseadas até chegar a Cabo Branco que desnuda de forma majestosa uma vista singular de toda cidade de João Pessoa. A essa altura um cansaço natural já nos acompanhava, paramos então para um breve descanso em um spot conhecido dos velejadores de João Pessoa e interrompemos a companhia derradeira do amigo que estava nos acompanhando e passamos a velejar por uma parte do litoral totalmente desconhecida passamos pelo esplendoroso Farol de Cabedelo que sinaliza uma larga barra, desse ponto em diante tudo era mágico pra mim, apesar de várias horas de trabalho no dia todos meus músculos queriam mais, a cada Praia nova um novo visual se abria em nossa frente. Existe um trecho nessa área que é extremamente propicio para o surf em pontos do litoral totalmente inóspitos onde o acesso só é possível pela praia, cercado por uma vigorosa faixa de mata atlântica e falésias, são intermináveis quilômetros de praias com muitas ondas que nos permitiu um verdadeiro prazer de surfar ondas novas. Após cerca de uma hora o cansaço e dores musculares se estalou definitivamente, os dois dias de velejo constate já cobrava sua fatura, um incomodo desconforto no antebraço direito lembrava uma tendinite que carrego a muito tempo agravada por todo esforço em velejar apenas em uma base com o pé direito a frente da prancha.
Há aquela altura sem dúvida a viagem já nos presenteava, a euforia só foi rompida quando passamos por aquele pedacinho de praia que se apresentava, a beleza de praia serviu para uma breve pausa para procurar saber pelo menos o nome daquele lugar, Praia de Coqueirinho, que sem dúvida é uma daquelas lugares que nos aproxima do criador. Há essa altura o sol já se escondia por trás de algumas nuvens anunciando um por do sol resplendoroso que não tardava a chegar, lembrando que faltava muito para chegar no nosso ponto de parada do dia, temos de ser mais rápidos e objetivos para aproveitar o vento que soprava vigorosamente, poucos quilômetros a frente chegamos a Baía da Traição com uma visão que simplesmente não sairá da mente, ao fundo todas as cores características do por do sol nordestino e a proximidade de um farol caprichosamente construído no meio do mar acima de uma bancada de pedras Naquele instante não havia dúvida que chegaríamos em Barra de Camaratuba, o pensamento de alegria substituía todo o esforço e nós presenteava com uma carga extra de energia. Foi quando, como no dia anterior o vento simplesmente parou, a textura do mar mudou de tons brancos de espuma para um espelhado aterrador, estávamos bem dentro do mar e deixar o kite cair na água aquela altura seria um horror, fomos buscar energia extra onde não havia e pra falar a verdade chegamos perto do limite físico, chegamos em Camaratuba absolutamente exatos, já à noite, mas felizes, acabados, nesse momento meu parceiro me permitiu observar toda sua força mental e física desdenhando da situação com um incompressível trote a beira mar com intuito de elevar a moral, coisa de militar mesmo.
Terceiro dia
Depois de uma longa jornada e a certeza que havíamos recuperado um pouco do tempo perdido no primeiro dia festejamos com a companhia do amigo Romero, proprietário da charmosa Pousada Aldeia de Camaratuba que nos permitiu uma justa noite de sono. Ao acordar para nosso terceiro dia de jornada tivemos a grata noticia que nosso anfitrião nos acompanharia por cerca de 40 quilômetros até a bela Praia de Barra de Cunhaú, esse trecho é literalmente incrível e bem legal para aventureiros de primeira hora, muita onda e uma parada sensacional na Praia de Sagi afim de degustar do tradicional pastel de Arraia, chegamos em nossa primeira parada por volta de 13:30 e nos permitimos descansar 30 minutos até iniciar nosso tiro final do dia até, quem sabe Natal. É importante relatar a essa altura a constatação do primeiro erro de planejamento, subestimamos o swell e o fato de ser uma maré de lua, nessas condições a dificuldade aumenta muito e o degaste físico é muito maior, nesse dia meu joelho direito começou a assustar, dores agudas assombrava meus pensamentos, fui forçado a velejar o tempo todo com a base trocada, pé esquerdo a frente, afim de economizar uma das pernas, pra falar a verdade foi minha maior assombração física em toda jornada, tive muito receio de não conseguir administrar o desconforto onde estávamos apenas no início da viagem, minha mão, por pura teimosia estava esfolada, salva providencialmente pelo companheiro que cedeu gentilmente seu par de luvas, que inicialmente relutei erroneamente em utilizar. Nos despedimos do companheiro Romero e partimos otimistas de quem sabe poder pernoitar em Natal, seria perfeito, recuperar o tempo perdido nesse trecho, todo esse otimismo fez acelerar bastante a jornada, passamos a fazer um velejo de cruzeiro, bem por fora, só encostamos na costa na Lajinha afim de conferir a condição das ondas e contemplar a beleza do lugar, pra quem não conhece um spot alucinante, por conta da dificuldade de acesso, poucas pessoas conhece, só mesmo alguns poucos amantes locais do kitewave, logo após cruzar a praia do Amor em Pipa nós afastamos novamente da costa a fim de evitar todo rotor das belas Falésias, característica tipica desse trecho, a nossa frente avistamos uns poucos kites no ar na Barra de Tibau, porém na ânsia de tentar recuperar um pouco do tempo, inadvertidamente cometemos um erro de não parar, para pelo menos, um breve descanso, mais tarde verificamos que essa atitude quase compromete toda nossa missão, Há que se registrar aos que desejem atingir grandes objetivos, que o primeiro importante ensinamento é subtrair da mente toda ansiedade e pressa, é mais rápido fazer o certo lentamente, atingindo gradativamente seus objetivos do que purgar as eventuais decisões precipitadas. Começa ali, logo após Timbau um dos piores trechos da Trip o mar fica extremamente turbulento, principalmente na maré grandes, por conta de uma bancada de pedras muito extensa que segue caprichosamente todo relevo da orla, tornando impossível efetuar uma eventual parada, se fosse no início de jornada essa dificuldade não se constituiria em problema, no entanto, já com várias horas no mar todos os músculos do corpo doíam, boca seca alguns simples movimento ficavam muito difíceis de realizar, com toda certeza o tributo cobrado pela falta de planejar melhor nossas paradas teria um preço alto.
Quando se chega no limite físico a mente começa a nos pregar peças, a expectativa de chegar em Natal já não saia da cabeça em nenhum momento, olhando para meu parceiro percebia claramente que a situação dele não era diferente da minha, não havia nenhuma possibilidade de ir a praia ondas ferozes estouravam nas pedras criando um balanço infernal tornado nosso velejo insuportável por vários intermináveis quilômetros. Foi quando avistamos uma pequena entrada, um canal de aproximadamente quatro metros que servia de portal para uma pequena enseada que mais parecia um miragem, sem exitar partimos para praia onde finalmente gozaríamos de um merecido descanso, já havia pouca luz o vento estava extremamente forte, muito rajado, pelo menos uns 30 knós, por pura distração, talvez, provocada pelo esgotamento físico um dos kites tocou a ponta em uma folha do coqueiro e simplesmente girou ficando literalmente abraçado com a copa e lentamente começou a rasgar, ficamos atônitos, observado por alguns segundos nossa jornada sendo encerrada pela aquela insólita situação. Passado a inercia inicial partimos pra cima do coqueiro com uma disposição anormal atravessando uma cerca de arame farpado e começamos a liberar nosso abençoado meio de transporte da roubada. Passado o stress conseguimos liberar a muito custo o velame constatando os danos. Passado o susto fomos procurar um lugar para dormir, encontramos uma insólita Pousada a beira mar onde a primeira impressão foi que a muito aquele estabelecimento recebia hospedes, tomamos um banho doce, guardamos nosso material e partimos em busca de uma sonhada refeição, infelizmente, apesar de algumas casas de veraneio o local mais próximo ficará a quatro quilômetros de distancia, resignadamente, sem opção partimos em busca de um mero sanduíche, meu parceiro, já prevendo o esforço de uma andada de mais quatro mil metros de volta pediu sua cota dobrada.
Quarto dia !
Dormimos como reis, nossa maior preocupação ao acordar seria consertar a asa danificada, três rasgos, por precaução havíamos levado um kit reparo bem eficiente que era constituído por um rolo de fita adesiva, uma linha reserva e uma bisnaga de cola. Pois bem, foi o bastante para deixar novinho o bem dito velame, terminamos o reparo por volta de 10 horas da manhã que já registrava um forte vento lateral, perfeito para nosso trajeto, a sensação naquele momento é que as mazelas haviam ficado pra trás, tudo de imprevisto não haveria de acontecer novamente, pelo menos era o nosso pensamento. Entramos na água por volta de 11:30 e partimos rompendo todas belas praias que antecedem a linda cidade do Sol, Natal, são aproximadamente cerca de 50 quilômetros de velejo, passando por Ponta Negra começamos a procurar um lugar para parar, afim de hidratar o corpo e descaçar, preparando para já temida travessia da barra em que esta localizado o Forte dos Reis Magos. Avistamos uma pequena praia, um pouco antes da Praia dos Artistas em uma área meio deserta que seria perfeito, afim de preservar um pouco de privacidade em nosso merecido descaço, aportamos na praia sem problemas e logo deitamos na areia em baixo dos nossos kites para um breve cochilo, essa inusitada siesta durou cerca de trinta minutos, tempo mais que suficiente para recarregar nossas baterias. Na realidade não sabíamos que aquele inocente descanso se transformaria na maior roubada do dia, quando chegamos na praia exaustos não havíamos percebido que todo o fundo era de pedras, entramos entre uma onda e outra e por muita sorte não acertamos o fundo, porém na hora da saída com a maré um pouco mais baixa desnudava uma gigantesca bancada por um longo trecho - Será possível - exclamei incrédulo ao parceiro ! Estudamos a roubada por longos e intermináveis minutos, até reunimos coragem e decidimos encarar a bronca - Vou primeiro Cacá e depois tu acompanha meu trajeto, esperando entre uma onda e outra parti sem medo de ser feliz, tomei logo de saída uma forte pancada no abdome mas consegui milagrosamente sair, fiquei velejando em frente aguardando meu parceiro que infelizmente não teve a mesma sorte. Logo na saída deu de quilha em uma das maiores pedras por conta do refluxo de uma onda da série, o impacto fez com que seu kite fosse arremessado para praia, fiquei por alguns instantes meio sem entender me mantendo sempre em frente ao local apesar de muitas ondas da série quebrando em todas as direções, cheguei até pensa que teria que sair novamente afim de socorrer o amigo. Passado alguns longos minutos o companheiro não sei explicar como superou o paredão de pedras e se junto comigo em formação de ala dando seguimento a nossa jornada, o resultado desse infortúnio foi um rombo de mais de um palmo na prancha e um quilha a menos, naquela altura já estávamos com o Forte dos Reis Magos e a Ponte Newton Navarro, - cartão postal de Natal - em nossa alça de mira, nesse momento o mar estava encapelado, muito turbulento com vagas enormes onde para manter as linhas esticadas do kite tínhamos que castigar nos kiteloops mesmo com ventos superior a casa dos 20 knós, alias até aquele ponto, desde a saída de Recife havia muita onda aumentando muito a dificuldade do nosso início de jornada, exigindo mais do preparo físico, no entanto observamos claramente que após cruzar a temida barra e começar a se aproximar da Praia de Rendinha nosso velejo mudou totalmente o mar ficou mais liso com poucas ondulações que naquela altura para o rendimento de nossa viagem, a jornada ficou extremamente confortável, queríamos adiantar o máximo possível e passamos por belíssimas praias iluminadas pelos últimos raios de sol do dia, tudo indicava que teríamos um final de tarde bem melhor que no dia anterior, uma indescritível sensação de alegria tomou conta começamos a cantar e velejar examinado cuidadosamente cada pedacinho de encosta já em busca do lugar do nosso pernoite. É incrível que quando nos lançamos em situações que efetivamente não temos o controle e colocamos nossa fé para nos guiar coisas muito boas passam a acontecer, normalmente quando começamos um dia normal em nossa vida rotineira temos tudo já programado, de certa forma já imaginamos como o dia acabará, nesse ponto da jornada, não sei exatamente o motivo, ao pousar minha asa na praia percebi com estava sendo fantástica nossa jornada, esses últimos dias, não havia absolutamente controle de nada e uma indescritível sensação de felicidade tomou conta de mim, logo em seguida meu companheiro aportou sua pipa e pude perceber por suas feições que a sensação dele era semelhante a minhã, era como se tivéssemos visto o passarinho azul, afinal, de fato esse final de tarde seria o primeiro sem nenhum incidente, era como se um novo portal tivesse sido aberto e a partir da li, seria só alegria, nos abraçamos e confesso que tive perto de não conseguir conter as lágrimas. Comecei a prestar atenção no lugar, era uma pequena comunidade à beira mar com uma vista inesquecível do por do sol de um lado e uma longa baia do outro, sons de crianças brincando, uma harmonia pairava no ar entre a natureza e seus habitantes o lugar emanava uma profunda paz, foi quando inadvertidamente me dirigi a um senhor que estava atentamente nos observando acompanhado de alguns jovens e perguntei - Qual o nome desse paraíso?
Foi ai que o primeiro anjo da guarda se encorporou a nossa jornada, seu nome de Guerra: Casquinha, uma figura humana sem igual, jogador de Futebol profissional aposentado com vários seguidores o verdadeiro embaixador de Barra de Maxaranguape, batemos toda a cidade em busca de um Pousada sem sucesso, já estávamos imaginando que iriamos pernoitar em baixo de uma barraca abandonada, quando nosso salvador nós levou para sua casa fazendo valer a valorosa hospitalidade nordestina, cedeu sua cama para meu companheiro que literalmente perdeu os sentidos em um sono profundo embalado pelo som das muriçocas.
Porto de Recife
Inicio na Praia de Boa Viagem
Porto do Recife
Segundo dia !
O segundo dia começou com um misto de receio e muita adrenalina com a falsa convicção que haviamos superado o pior trecho, essa sensação se ampliou com a chegada inusitada de minha querida esposa e um casal de amigos que haviam nos acompanhando no dia anterior. A partir daquele momento passei a observar algumas novas sensações que pairava na minha mente que até então nunca havia dado importância a elas, como uma constante sensação de incerteza que só podeira ser preenchida pela Fé.
Saímos por volta de meio dia, a essa altura o vento tinha baixado um pouco comparando com inicio da manhã, mas afinal o encontro com minha esposa valeria a pena lograr algumas horas a menos de velejo. Cerca de apenas alguns minutos de velejo tivemos uma grata surpresa, encontramos uma Praia fantástica, até então desconhecida com um alto potencial de surf, um pedacinho de litoral que por si só já justificaria toda a viagem, sem poder aproveitar aquele insólito lugar seguimos viagem rompendo todo litoral sul da Paraíba, muito pouco explorado que é simplesmente lindo, passamos por praias desertadas, praias de nudismo, baias, cabos e enseadas até chegar a Cabo Branco que desnuda de forma majestosa uma vista singular de toda cidade de João Pessoa. A essa altura um cansaço natural já nos acompanhava, paramos então para um breve descanso em um spot conhecido dos velejadores de João Pessoa e interrompemos a companhia derradeira do amigo que estava nos acompanhando e passamos a velejar por uma parte do litoral totalmente desconhecida passamos pelo esplendoroso Farol de Cabedelo que sinaliza uma larga barra, desse ponto em diante tudo era mágico pra mim, apesar de várias horas de trabalho no dia todos meus músculos queriam mais, a cada Praia nova um novo visual se abria em nossa frente. Existe um trecho nessa área que é extremamente propicio para o surf em pontos do litoral totalmente inóspitos onde o acesso só é possível pela praia, cercado por uma vigorosa faixa de mata atlântica e falésias, são intermináveis quilômetros de praias com muitas ondas que nos permitiu um verdadeiro prazer de surfar ondas novas. Após cerca de uma hora o cansaço e dores musculares se estalou definitivamente, os dois dias de velejo constate já cobrava sua fatura, um incomodo desconforto no antebraço direito lembrava uma tendinite que carrego a muito tempo agravada por todo esforço em velejar apenas em uma base com o pé direito a frente da prancha.
Há aquela altura sem dúvida a viagem já nos presenteava, a euforia só foi rompida quando passamos por aquele pedacinho de praia que se apresentava, a beleza de praia serviu para uma breve pausa para procurar saber pelo menos o nome daquele lugar, Praia de Coqueirinho, que sem dúvida é uma daquelas lugares que nos aproxima do criador. Há essa altura o sol já se escondia por trás de algumas nuvens anunciando um por do sol resplendoroso que não tardava a chegar, lembrando que faltava muito para chegar no nosso ponto de parada do dia, temos de ser mais rápidos e objetivos para aproveitar o vento que soprava vigorosamente, poucos quilômetros a frente chegamos a Baía da Traição com uma visão que simplesmente não sairá da mente, ao fundo todas as cores características do por do sol nordestino e a proximidade de um farol caprichosamente construído no meio do mar acima de uma bancada de pedras Naquele instante não havia dúvida que chegaríamos em Barra de Camaratuba, o pensamento de alegria substituía todo o esforço e nós presenteava com uma carga extra de energia. Foi quando, como no dia anterior o vento simplesmente parou, a textura do mar mudou de tons brancos de espuma para um espelhado aterrador, estávamos bem dentro do mar e deixar o kite cair na água aquela altura seria um horror, fomos buscar energia extra onde não havia e pra falar a verdade chegamos perto do limite físico, chegamos em Camaratuba absolutamente exatos, já à noite, mas felizes, acabados, nesse momento meu parceiro me permitiu observar toda sua força mental e física desdenhando da situação com um incompressível trote a beira mar com intuito de elevar a moral, coisa de militar mesmo.
Chegada em João Pessoa
Farol na Barra de Cabedelo
Praia desertas litoral da Paraíba
Farol Baía da Traição
Terceiro dia
Depois de uma longa jornada e a certeza que havíamos recuperado um pouco do tempo perdido no primeiro dia festejamos com a companhia do amigo Romero, proprietário da charmosa Pousada Aldeia de Camaratuba que nos permitiu uma justa noite de sono. Ao acordar para nosso terceiro dia de jornada tivemos a grata noticia que nosso anfitrião nos acompanharia por cerca de 40 quilômetros até a bela Praia de Barra de Cunhaú, esse trecho é literalmente incrível e bem legal para aventureiros de primeira hora, muita onda e uma parada sensacional na Praia de Sagi afim de degustar do tradicional pastel de Arraia, chegamos em nossa primeira parada por volta de 13:30 e nos permitimos descansar 30 minutos até iniciar nosso tiro final do dia até, quem sabe Natal. É importante relatar a essa altura a constatação do primeiro erro de planejamento, subestimamos o swell e o fato de ser uma maré de lua, nessas condições a dificuldade aumenta muito e o degaste físico é muito maior, nesse dia meu joelho direito começou a assustar, dores agudas assombrava meus pensamentos, fui forçado a velejar o tempo todo com a base trocada, pé esquerdo a frente, afim de economizar uma das pernas, pra falar a verdade foi minha maior assombração física em toda jornada, tive muito receio de não conseguir administrar o desconforto onde estávamos apenas no início da viagem, minha mão, por pura teimosia estava esfolada, salva providencialmente pelo companheiro que cedeu gentilmente seu par de luvas, que inicialmente relutei erroneamente em utilizar. Nos despedimos do companheiro Romero e partimos otimistas de quem sabe poder pernoitar em Natal, seria perfeito, recuperar o tempo perdido nesse trecho, todo esse otimismo fez acelerar bastante a jornada, passamos a fazer um velejo de cruzeiro, bem por fora, só encostamos na costa na Lajinha afim de conferir a condição das ondas e contemplar a beleza do lugar, pra quem não conhece um spot alucinante, por conta da dificuldade de acesso, poucas pessoas conhece, só mesmo alguns poucos amantes locais do kitewave, logo após cruzar a praia do Amor em Pipa nós afastamos novamente da costa a fim de evitar todo rotor das belas Falésias, característica tipica desse trecho, a nossa frente avistamos uns poucos kites no ar na Barra de Tibau, porém na ânsia de tentar recuperar um pouco do tempo, inadvertidamente cometemos um erro de não parar, para pelo menos, um breve descanso, mais tarde verificamos que essa atitude quase compromete toda nossa missão, Há que se registrar aos que desejem atingir grandes objetivos, que o primeiro importante ensinamento é subtrair da mente toda ansiedade e pressa, é mais rápido fazer o certo lentamente, atingindo gradativamente seus objetivos do que purgar as eventuais decisões precipitadas. Começa ali, logo após Timbau um dos piores trechos da Trip o mar fica extremamente turbulento, principalmente na maré grandes, por conta de uma bancada de pedras muito extensa que segue caprichosamente todo relevo da orla, tornando impossível efetuar uma eventual parada, se fosse no início de jornada essa dificuldade não se constituiria em problema, no entanto, já com várias horas no mar todos os músculos do corpo doíam, boca seca alguns simples movimento ficavam muito difíceis de realizar, com toda certeza o tributo cobrado pela falta de planejar melhor nossas paradas teria um preço alto.
Quando se chega no limite físico a mente começa a nos pregar peças, a expectativa de chegar em Natal já não saia da cabeça em nenhum momento, olhando para meu parceiro percebia claramente que a situação dele não era diferente da minha, não havia nenhuma possibilidade de ir a praia ondas ferozes estouravam nas pedras criando um balanço infernal tornado nosso velejo insuportável por vários intermináveis quilômetros. Foi quando avistamos uma pequena entrada, um canal de aproximadamente quatro metros que servia de portal para uma pequena enseada que mais parecia um miragem, sem exitar partimos para praia onde finalmente gozaríamos de um merecido descanso, já havia pouca luz o vento estava extremamente forte, muito rajado, pelo menos uns 30 knós, por pura distração, talvez, provocada pelo esgotamento físico um dos kites tocou a ponta em uma folha do coqueiro e simplesmente girou ficando literalmente abraçado com a copa e lentamente começou a rasgar, ficamos atônitos, observado por alguns segundos nossa jornada sendo encerrada pela aquela insólita situação. Passado a inercia inicial partimos pra cima do coqueiro com uma disposição anormal atravessando uma cerca de arame farpado e começamos a liberar nosso abençoado meio de transporte da roubada. Passado o stress conseguimos liberar a muito custo o velame constatando os danos. Passado o susto fomos procurar um lugar para dormir, encontramos uma insólita Pousada a beira mar onde a primeira impressão foi que a muito aquele estabelecimento recebia hospedes, tomamos um banho doce, guardamos nosso material e partimos em busca de uma sonhada refeição, infelizmente, apesar de algumas casas de veraneio o local mais próximo ficará a quatro quilômetros de distancia, resignadamente, sem opção partimos em busca de um mero sanduíche, meu parceiro, já prevendo o esforço de uma andada de mais quatro mil metros de volta pediu sua cota dobrada.
Companhia do companheiro Romero de Barra de Camaratuba
Observando o trecho Praia de Sagi
Travessia entre Baía da traição e Barra de Camaratuba
Chegada a Praia de Rendinha
Quarto dia !
Dormimos como reis, nossa maior preocupação ao acordar seria consertar a asa danificada, três rasgos, por precaução havíamos levado um kit reparo bem eficiente que era constituído por um rolo de fita adesiva, uma linha reserva e uma bisnaga de cola. Pois bem, foi o bastante para deixar novinho o bem dito velame, terminamos o reparo por volta de 10 horas da manhã que já registrava um forte vento lateral, perfeito para nosso trajeto, a sensação naquele momento é que as mazelas haviam ficado pra trás, tudo de imprevisto não haveria de acontecer novamente, pelo menos era o nosso pensamento. Entramos na água por volta de 11:30 e partimos rompendo todas belas praias que antecedem a linda cidade do Sol, Natal, são aproximadamente cerca de 50 quilômetros de velejo, passando por Ponta Negra começamos a procurar um lugar para parar, afim de hidratar o corpo e descaçar, preparando para já temida travessia da barra em que esta localizado o Forte dos Reis Magos. Avistamos uma pequena praia, um pouco antes da Praia dos Artistas em uma área meio deserta que seria perfeito, afim de preservar um pouco de privacidade em nosso merecido descaço, aportamos na praia sem problemas e logo deitamos na areia em baixo dos nossos kites para um breve cochilo, essa inusitada siesta durou cerca de trinta minutos, tempo mais que suficiente para recarregar nossas baterias. Na realidade não sabíamos que aquele inocente descanso se transformaria na maior roubada do dia, quando chegamos na praia exaustos não havíamos percebido que todo o fundo era de pedras, entramos entre uma onda e outra e por muita sorte não acertamos o fundo, porém na hora da saída com a maré um pouco mais baixa desnudava uma gigantesca bancada por um longo trecho - Será possível - exclamei incrédulo ao parceiro ! Estudamos a roubada por longos e intermináveis minutos, até reunimos coragem e decidimos encarar a bronca - Vou primeiro Cacá e depois tu acompanha meu trajeto, esperando entre uma onda e outra parti sem medo de ser feliz, tomei logo de saída uma forte pancada no abdome mas consegui milagrosamente sair, fiquei velejando em frente aguardando meu parceiro que infelizmente não teve a mesma sorte. Logo na saída deu de quilha em uma das maiores pedras por conta do refluxo de uma onda da série, o impacto fez com que seu kite fosse arremessado para praia, fiquei por alguns instantes meio sem entender me mantendo sempre em frente ao local apesar de muitas ondas da série quebrando em todas as direções, cheguei até pensa que teria que sair novamente afim de socorrer o amigo. Passado alguns longos minutos o companheiro não sei explicar como superou o paredão de pedras e se junto comigo em formação de ala dando seguimento a nossa jornada, o resultado desse infortúnio foi um rombo de mais de um palmo na prancha e um quilha a menos, naquela altura já estávamos com o Forte dos Reis Magos e a Ponte Newton Navarro, - cartão postal de Natal - em nossa alça de mira, nesse momento o mar estava encapelado, muito turbulento com vagas enormes onde para manter as linhas esticadas do kite tínhamos que castigar nos kiteloops mesmo com ventos superior a casa dos 20 knós, alias até aquele ponto, desde a saída de Recife havia muita onda aumentando muito a dificuldade do nosso início de jornada, exigindo mais do preparo físico, no entanto observamos claramente que após cruzar a temida barra e começar a se aproximar da Praia de Rendinha nosso velejo mudou totalmente o mar ficou mais liso com poucas ondulações que naquela altura para o rendimento de nossa viagem, a jornada ficou extremamente confortável, queríamos adiantar o máximo possível e passamos por belíssimas praias iluminadas pelos últimos raios de sol do dia, tudo indicava que teríamos um final de tarde bem melhor que no dia anterior, uma indescritível sensação de alegria tomou conta começamos a cantar e velejar examinado cuidadosamente cada pedacinho de encosta já em busca do lugar do nosso pernoite. É incrível que quando nos lançamos em situações que efetivamente não temos o controle e colocamos nossa fé para nos guiar coisas muito boas passam a acontecer, normalmente quando começamos um dia normal em nossa vida rotineira temos tudo já programado, de certa forma já imaginamos como o dia acabará, nesse ponto da jornada, não sei exatamente o motivo, ao pousar minha asa na praia percebi com estava sendo fantástica nossa jornada, esses últimos dias, não havia absolutamente controle de nada e uma indescritível sensação de felicidade tomou conta de mim, logo em seguida meu companheiro aportou sua pipa e pude perceber por suas feições que a sensação dele era semelhante a minhã, era como se tivéssemos visto o passarinho azul, afinal, de fato esse final de tarde seria o primeiro sem nenhum incidente, era como se um novo portal tivesse sido aberto e a partir da li, seria só alegria, nos abraçamos e confesso que tive perto de não conseguir conter as lágrimas. Comecei a prestar atenção no lugar, era uma pequena comunidade à beira mar com uma vista inesquecível do por do sol de um lado e uma longa baia do outro, sons de crianças brincando, uma harmonia pairava no ar entre a natureza e seus habitantes o lugar emanava uma profunda paz, foi quando inadvertidamente me dirigi a um senhor que estava atentamente nos observando acompanhado de alguns jovens e perguntei - Qual o nome desse paraíso?
Foi ai que o primeiro anjo da guarda se encorporou a nossa jornada, seu nome de Guerra: Casquinha, uma figura humana sem igual, jogador de Futebol profissional aposentado com vários seguidores o verdadeiro embaixador de Barra de Maxaranguape, batemos toda a cidade em busca de um Pousada sem sucesso, já estávamos imaginando que iriamos pernoitar em baixo de uma barraca abandonada, quando nosso salvador nós levou para sua casa fazendo valer a valorosa hospitalidade nordestina, cedeu sua cama para meu companheiro que literalmente perdeu os sentidos em um sono profundo embalado pelo som das muriçocas.
Momentos antes da saída Praia de Tabatinga
Recepcionado pelo amigo Casquinha Barra de Maxaranguape
Soneca em Ponta Negra
Ponte Newton Navarro
Muito massa!!
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