Alguns companheiros sempre me questionam se vale a pena realizar bate volta longo, pois bem, não há a menor dificuldade em responder, vale demais! É sempre muito bom desfrutar da companhia especial de amigos em locais inusitados, principalmente essa época de pouco vento.
Essa semana quatro amigos: Eu, Cacá Wolpet, Anderson Brederode e Icaro, rodamos cerca de 900 km para desfrutar de um prometido swell de norte, especial no litoral oeste do Rio Grande do Norte, infelizmente a prometida condição não correspondeu as expectativas, esperávamos mais onda, no entanto vento não faltou, alias foram horas mágicas de muito velejo e surf a sintonia da galera foi sem dúvida o ponto alto da trip, que venham os próximos...
Cacá aproveitou para comemorar seu aniversário - Belo presente !
Direitas pequenas, mas bem divertidas
As esquerdas quebravam no up wind, ótimas para o surf
Foram meses de estudo e planejamento,
mais de 6000 quilômetros rodados em apenas seis dias, cerca de 15 horas de
barco ao longo de três dias, muitas horas de preparação física, recursos
materiais, financeiros e uma formidável dose de otimismo e desprendimento para
tudo isso ser desmantelado em apenas algumas horas velejando na fabulosa Baía de
Turiaçu.
A ideia em conhecer o litoral norte
do Brasil já vem de algum tempo, desde sempre a grandeza daquela região me fascina,
em 2004 quando tive a grata oportunidade em velejar nas águas doce da bela Baía
do Guajará e provar das belezas naturais da região do salgado, como é conhecida
a orla daquela que para mim é a mais bela praia do litoral Brasileiro, Salinas.
Acredito até que seja bem estranho entender um Nordestino acostumado em
desfrutar da fantástica costa regional com todo seus contrates e riquezas
culturais a uma região quase desconhecida que é o litoral Ocidental do Maranhão
e a costa Paraense, alguns amigos me questionam se lá tem praias de água
salgada, imaginem, no entanto, acho improvável uma pessoa que admire a natureza não se
encantar com a magnitude da região, como não se encantar com a maior Ilha
fluvial do planeta, com o surf na pororoca e nos rios de água morna e saborosa
e a vastidão das praias oceânicas desse litoral.
Mesmo antes de me lançar nessa
aventura tinha consciência plena das dificuldades e até risco de uma empreitada
dessa magnitude, hoje chego à constatação que houve um excessivo sentimento de
confiança e subestimação da força da natureza naquela região, tão pouco
conhecida, na verdade essas diversidades torna inequivocamente o desafio ainda
mais sedutor.
Pois bem, foram esses quesitos que me
influenciaram a idealizar a expedição Kite Selva, em muitas oportunidades
sempre que podia convidava alguns companheiros de kite pra fazer companhia
nessa promissora jornada, em nenhum momento desejava encarar sozinho tamanho
desafio.
O tempo passava e não conseguia
colocar um ponto de partida a minha aventura, ora por falta de companhia ora
por falta de tempo, digo, prioridade na questão, porém ao longo do tempo
observo que a vida não espera, ela inexoravelmente segue sua dinâmica por vezes
até cruel, não somos os senhores do tempo e esse sem sombra de dúvida é nosso
recurso mais precioso. Então quem sabe
faz a hora e o tempo é movimento.
É chegada a hora de respirar fundo e colocar o
receio de lado e encarar o sonho. Em todo o processo de preparação até surgiram
alguns amigos para realizar comigo o desafio, porém no andar da carruagem eles
se deparavam com a minha própria dificuldade inicial, falta de companhia ou
prioridade. Foi quando a véspera da
viagem surgiu um amigo que muito se parece comigo no gosto pelo esporte, e mais,
traria consigo uma enorme experiência de um valoroso feito de uma tirada em sete
dias de velejo entre Recife a Fortaleza, tudo se encaixava como uma música bem
cantada para embalar nossa aventura.
Iniciamos, eu, Anderson e Marcos Paes
a viagem de um sonho que não era mais somente meu, todo o grupo incorporou o
sentimento aventureiro e realmente foram dias inesquecíveis, acredito que nós
três saímos com marcas indeléveis nas nossas vidas, nos deparamos com uma
realidade impressionante da diversidade geográfica de regiões e até culturais
de nosso Brasil.
Já havia relatado em vídeo as
características que ora novamente torno-as pública. Lá encontramos a maior
variação de mare do litoral Brasileiro gerando correntes poderosíssimas, maior área
de mangue continua das Américas, em um litoral rasgado por barras imensas,
baias, Ilhas e furos formando um verdadeiro labirinto, talvez visto em pouco
locais do planeta, aliado a uma baixíssima densidade demográfica, só pra bem
ilustrar nosso companheiro Marcos Paes teve que rodar 1000 km em estradas
sinistras para marcar nosso primeiro encontro com a civilização onde
velejaríamos apenas 180 km, ou seja, teria que rodar mais de cinco vezes nosso
percurso pra chegar ao mesmo lugar, à natureza ali é deslumbrante mais também
implacável e assustadora.
Mesmo com pouco tempo pra avaliar não
tenho receio em afirmar que nossa primeira derrota ocorreu através dos nossos
piores pensamentos, imaginar navegar três horas de barco em direção ao alto mar
passando por um emaranhado de ilhas em sua grande maioria coberta por uma
vegetação muito densa de mangue e depois ter que velejar mais de duas horas em
um mar que hora lança sua fúria para os incontáveis furos e hora lhe traga para
corrente de alto mar pra dai começar, mesmo que com muita limitação a ver terra,
é simplesmente assustador, acreditem.
Hoje sinceramente não sei se é possível ser feito no formato que idealizamos.
Passado todo trauma da maior roubada
que já vivenciei, mesmo comparando com meus piores momentos no voo livre e
outros esportes que pratiquei, tenho somente agradecer a todos os amigos que me
ajudaram nesse projeto em especial ao José Siqueira por todo apoio, ao José Tavares pelo profissionalismo e aos nobres companheiros de jornada Anderson e
Marcos Paes, a minha família pelo respeito a minha vontade, a valorosa colaboração de Beth, aos amigos que
fizemos na jornada: Tatu, o capitão do barco por sua paciência e compromisso e a
Babau, pela hospitalidade que nos recebeu em sua casa concedendo um abençoado
alimento e pela sua valorosa atitude em resgatar o Anderson em uma ilha já encoberta pela maré cheia como também a quem nos acompanhou através do nosso
canal, gostaria oportunamente pedir-lhes
resignadamente desculpas pelo nosso
insucesso.
Fredy
HÁ QUE SE DESCOBRIR QUE NOSSA FIRMEZA
INTERIOR PODE SE SOBREPOR A FORÇA DA MÃE NATUREZA.
Assim era a maior parte da vegetação
Porto de Apicum Asu
Dia de treino
Nossa rota era seguir a direção do Sol poente
Mapa 1/4
Equipe completa
Mais uma ilha
A prancha foi perfeita
Foram 2000km até o ponto de partida passando pelo sertão
Muitas horas dentro do carro
Iguaria de Apicum Asu
Apicum Asu é uma cidade que vive literalmente da pesca
Esse era o visual de volta de mais um dia de treino
São muitas Ilhas e bancos de areia que desaparecem na maré cheia
Mais uma Ilha
Desertas
Muitos furos dentro de intermináveis canais dentro do mangue
Procuramos fazer um reconhecimento de toda região
Vegetação local
Nesse dia o barco não saiu por conta da maré, tédio total
Visual inesquecível
Mais um por do sol
Marcos Paes nosso companheiro sempre de alto astral
No dia da partida saímos a noite ainda
Dia da partida adrenalina a milhão
Furos formam um verdadeiro labirinto
Hoje é o dia
Nascer do sol a caminho da aventura
Momento de relaxamento antes da partida
Ajustando o GPS
Nossa agenda era a Praia
Kites grandes ainda assim não foi o dia
Maré secando rápido, barco encalhado
Anderson fazendo amigos
Comunidade da Ilha da Baleia
Camarões ao sol
Rua principal da Ilha da Baleia, cerca de 40 familias que vivem a quilômetros da costa
Casa do amigo salvador Babau
Vista parcial da comunidade da Baleia
Comida abençoada na casa do Babau
É chegada a hora amigo
Anderson após várias hora a deriva resgatado por Babau
Foi por pouco
Nessa hora após várias horas o barco me avistou, misto de alívio e frustação