Downwind, no jargão dos velejadores de kite que dizer velejar em favor do vento de uma praia a outra, Velejo em Recife, pratica de esportes aquáticos no litoral com a presença eminente de tubarões. A combinação desses dois itens forma uma extraordinária possibilidade de obter muita adrenalina. O percurso entre Recife a Porto de kite sempre me fascinou, não só pela distância, relativamente grande, cerca de 50 km, como também pelo elevado grau de dificuldade, enriquecido pela combinação acima citada, pois bem, no último dia 09 a natureza proporcionou as condições meteorológicas ideais para realizar o tão desejado roteiro, ventos de 16 a 22 knós do quadrante nordeste, com muito sol, condição perfeita!
Na verdade essa aventura não visou somente satisfazer uma meta pessoal anteriormente traçada, mais fornecer aos amigos velejadores ávidos por adrenalina informações necessárias para fazer o mesmo roteiro no futuro com relativa segurança, então vamos ao relato:
Já vinha monitorando o vento a mais de uma semana, pois em nossa região é comum soprar o vento nordeste forte nessa época do ano, que normalmente não se prolonga por mais de 24 horas, então teria que ser um tiro certo. No dia 09 desse mês, por fim surgiu a condição perfeita, porém face à precariedade em prever a condição ideal a logística do desafio fica um pouco prejudicada tendo em vista ser um dia normal de trampo, esse fato dificultou conseguir uma pessoa que se se habilite a promover o retorno, tem que ser um grande amigo ou então tem que morrer em uma grana para voltar. Porém tudo parecia conspirar a favor dessa maravilhosa empreitada o blodinho surfista fissurado Marcos Paes (Gordinho), residente de Porto de Galinhas se apresentou como voluntário para promover minha volta e outro grande amigo e esportista Fernando Rumo me levou para o ponto de partida, Bar do Biruta na praia do Pina.
Então com tudo equacionado parti para dar inicio ao desejado downwind, é verdade, um pouco atrasado, às 14:30hs consegui finalmente dar partida, os primeiros kilometros na famosa praia de Boa Viagem foi de um visual inusitado, normalmente estou acostumado ver essa praia do lado oposto, foi muito legal surfar no Acaiaca, Vila Rica, Britania, Marlim, pois todos esses picos fizeram parte da minha realidade de surf na adolescência, quando ainda era permitido pegar essas ondas, voltando ao percurso, o horário era minha maior preocupação, levei cerca de 45 minutos para chegar ao meu pico predileto, Candeias, passei a milhão, chegando a Praia do Paiva relaxei e fiz todo o percurso aproveitando às intermináveis esquerda que quebravam com uma supre endente formação, embaladas por um bom swell de norte, a Laje pico conhecido pela potencia de suas esquerdas tava flat, então mantive a aceleração e em Itapoama tive a grata surpresa de passa por dois grandes amigos velejadores: Beto Chalassa e Alan Gueiros que se deliciavam com as ondas daquele pico, decorridos 70 minutos o percurso tava demais, só diversão, porém ao passar pela Ponta do Xareu a situação mudou drasticamente o mar ficou muito escuro e sinistro com vagas com mais de dois metros tive que me distanciar pelo menos uns três kilometros da Praia, o Cabo de Santo Agostinho foi crescendo na minha frente e o cansaço começou a me fazer companhia, por conta das grandes ondulações a linha do kite afrouxava e me forçava a ser mais firme nos comandos, aumentando muito meu desgaste físico.
Um novo cenário se abriu quando cruzei o Cabo de santo Agostinho, avistei o muro do Porto de Suape e aquilo me causou um indescritível sensação de prazer, nesse ponto já estava no mar por mais de 100 minutos, tudo ali era diferente para mim, me sentia um chaveiro naquele mundo enorme, tudo era muitíssimo grande a altura dos navios dava calafrio, ocorreu um misto de medo e euforia que só foi quebrado com os acenos do pessoal que trabalha no Porto de Suape. Nesse ponto do percurso tive uma breve sensação de dever cumprido que passou rapidamente por conta da dificuldade em atravessar toda infinita extensão do muro do Porto, 40 minutos de tirada, parecia não acabar, a luz do Sol começava a minguar e eu ainda ali entre os navios e o monstruoso muro de pedras, nesse momento o cansaço já era permanente, mais de 2 horas de velejo e o mar não tava pra kite. Cadê Muro alto que não chega, tenho que beber água, putz vai escurecer, nesse momento de confusão mental minha pipa toca com a ponta na água, a possibilidade de ter de rede colar meu kite naquelas condições organizou minha mente rapidamente e me fez partir para o ataque final. Chegando ao Cupê sai um pouco da água e pedi que um turista desavisado retirasse uma garrafa de água de 500 ml que estava na minha mochila e uma latinha de Red Bull pra comemorar, objetivo praticamente concluído, da Praia do Cupê até o Pontal de Maracaípe seria mesmo que velejar em casa, esse percurso feito varias vezes, daí pra frente foi show a mistura da sensação de dever cumprido com o surf das ondas do Cupê, Borete e Maracaípe até a chegada ao Pontal, sob muita alegria e gritos de satisfação de ter atingido essa inédita façanha, uma buzina interrompe minha euforia, era o Blodinho Givago companheiro de velejo em Candeias que questiona : blodinho estas vindo de onde? Quer uma carona?
Valeu !
Fredy
Resumo da Parada
Duração : 2:52hs
Vento : Nordeste 16 knós na saída e 20 knós na chegada
Kite Utilizado : Best Kahoona 9,5
Prancha: Wave Marroquim 6 pés
Hora de saída : 14:30hs
Hora de chegada : 17:22 hs